quinta-feira, 28 de março de 2019

Frank Sinatra pelo jovem Caio F.



Uma única matéria assinada - apenas uma - registra a passagem de Caio Fernando Abreu pela revista Manchete. Repare no canto inferior da foto acima, a assinatura à esquerda: Texto de Caio Fernando Abreu. E matéria de capa com Frank Sinatra, oito páginas muita foto e pouco texto, que anunciava sua retirada dos palcos aos 30 anos de carreira. O texto começa assim:

"A decisão não foi tomada de improviso. Ao contrário, foi longamente amadurecida. Há dois anos e meio, como ele mesmo disse na semana passada em sua casa de Palm Springs, Califórnia, Frank Sinatra vinha pensando em abandonar o "mundo dos espetáculos e da vida pública", para usar a expressão do texto conciso e bem feito em que o cantor/ator se despede agora."

O Ovo Apunhalado
Claro que ele não entrevistou Frank Sinatra. Era junho de 1971 e Caio F., 23 anos, trabalhava no departamento de pesquisa da revista semanal carioca (e também da Pais & Filhos). O livro Para Sempre Teu, Caio F., de Paula Dip, conta como foi essa temporada carioca que acabou em prisão. Ele morava em Botafogo, numa comunidade hippie e por lá escreveu a maior parte dos contos de O Ovo Apunhalado (1975).

Um flagrante por porte de maconha, que ele dizia ter sido plantado, o levou à prisão. E só foi solto graças à intervenção de Adolpho Bloch, dono da editora que publicava a Manchete, que o demitiu e lhe deu uma passagem de ida para Porto Alegre.


E naqueles acasos também rola polícia no final do perfil de Sinatra por Caio F.:

"Ano passado teve sérias complicações com a polícia, que o acusava de ligações com a Máfia. Nada ficou provado, mas paira sempre uma desconfiança sobre Sinatra, por ter sido criado num bairro de mafiosos e por sua ascendência italiana.O que mais o aborreceu, entretanto, foi o livro de Mario Puzzo, O Chefão, que hoje em dia é sucesso internacional. Dizem que quis retratar Sinatra com seu personagem central, um cantor, ator, homem de maior popularidade nos Estados Unidos, mas cheio de vícios em sua decadência, o mais inocente dos quais é o da embriaguez. Os que conhecem de perto Frank Sinatra chegam a afirmar que é perfeitamente possível que seja esse livro uma das causas que estão na raiz de sua decisão de abandonar já a carreira para viver uma vida mais tranquila."