tag:blogger.com,1999:blog-20186880167301569562024-03-08T07:32:53.677-03:00Caio F CaioBlog dedicado a textos de Caio Fernando Abreu. São crônicas, críticas, entrevistas, tudo escrito por ELE e a maioria inéditos em livros.Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.comBlogger146125tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-53500747632948243882022-04-05T17:19:00.000-03:002022-04-05T17:19:14.238-03:00Uns dias na vida de Caio F. às vésperas dos 28 anos<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkBfdaWXUH6QwtmJUADjtAPUJhzvpSI99Ahld9yddEdtGOJnm8UY9z-RjHc4W6xjihkZzyrRrjxyKVGSUbWsfPWr_LrbkT2IUKVDI41ck4-kOyuQlnAvkkZDGbv8QJYPuCOlrQ8iq-j8gmjql4SLJ8Jeq_bpEpiClsss7EYXSvEvSyXmbJ7SfZSY4HNA/s717/Caio_T.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="415" data-original-width="717" height="370" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkBfdaWXUH6QwtmJUADjtAPUJhzvpSI99Ahld9yddEdtGOJnm8UY9z-RjHc4W6xjihkZzyrRrjxyKVGSUbWsfPWr_LrbkT2IUKVDI41ck4-kOyuQlnAvkkZDGbv8QJYPuCOlrQ8iq-j8gmjql4SLJ8Jeq_bpEpiClsss7EYXSvEvSyXmbJ7SfZSY4HNA/w640-h370/Caio_T.png" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Revista Paralelo, Outubro de 1976</td></tr></tbody></table>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i>É raro esse texto publicado
em outubro de 1976 no primeiro número da revista <b>Paralelo</b> - e tenho a impressão
de que não está em nenhum livro. Bem poderia ser um capítulo de uma
autobiografia. Em Porto Alegre, logo depois da publicação de <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O Ovo Apunhalado</b>, às vésperas de
completar 28 anos ("vividos aos trancos e barrancos"), ele ouve de
Juarez Fonseca, editor da futura revista, "tu vai ter uma página só tua na
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Paralelo</b>, pra escrever o que tu
quiser"). Daí surgiu esse Que se há de fazer?, naquele estilo
completamente Caio F., com um sabor de primeira coluna escrita por ele.</i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial, "sans-serif"; line-height: 115%;"><b><span style="font-size: large;"> Que se há de fazer?</span></b><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Por favor, você que está aí
me lendo agora, você tem alguma sugestão? O que é que a gente faz quando tudo
parece ter se tornado incolor - inodoro - insípido - inclusive ou/e
principalmente nós mesmos? Como é que a gente deve agir dentro de um terremoto
interno (ou <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">implosão</b> subjetiva, para
usar uma palavra da moda)? Gabriel de Britto Velho, você que apaga tão bem o
cigarro no peito, me diga o que se pode fazer quando o peito está vazio e não
há nada para ser dito. Tentei, eu estou tentando: já faz uns dois meses que o
Juarez Fonseca chegou pra mim e disse olha, tu vai ter uma página só tua na <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Paralelo</b>, pra escrever o que tu quiser.
Eu fiquei aterrorizado e disse, mas eu não tenho nada pra dizer, Juarez, acho
que não disse, só pensei, bem ainda tem DOIS meses pela frente, até lá é
impossível que não pinte nada. Não pintou nada, em dois meses não saiu coisa
alguma. Fiz uma pequena pesquisa de mercado, o Giba Rocha disse que tinham me <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">convocado</b> porque um certo depoimento
que eu havia dado à revista <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Escrita</b>
- em tempos, digamos, mais veementes - tinha comovido muita gente e que
portando eu parecia o cara-_mais-indicado-a-servir-de-porta-voz-de-uma-certa-faixa-etária-de-uma-determinada-geração
(ele não usou essas palavras nojentas, disse dum jeito bem mais digno) - eu
quis dizer que achava que não era nada disso, que eu só tinha publicado uns
troços aí e contado umas coisas que tinham acontecido comigo e com outras
gentes que conheço, mas de novo não disse nada, talvez por vaidade ou
messianismo idiota fiquei pensando não, quem sabe eu poderia mesmo ser esse tal
porta-voz (algumas tendências megalômonas às vezes mal controladas). Acontece
que não sou e não quero assumir esse papel, porque - estou usando o máximo de,
desculpem, sinceridade - não sirvo nem pra porta-voz de mim mesmo. Nos últimos
tempos tenho me movimentado com dificuldade dentro dos meus
escombros-de-dentro, por uma série de razões demasiado pessoais para serem
trazidas ao baile (trata-se de um baile?), ando com uma autocrítica
violentíssima e não consigo, simplesmente não consigo pensar organizadamente
(?) ou ter ideias claras ou/e precisas sobre as coisas, quaisquer que sejam. Eu
disse: quaisquer. Nas cartas que tenho escrito ou nos meus rabiscos solitários
(e vis, talvez) no meio da noite, acabo caindo sempre na mais lamentável das
auto-lamentações: dói, tudo dói, DÓI PRA CACETE, meu irmão, como uma nevralgia
psico-espiritual (!), parece que uma peça importante para o meu funcionamento
simplesmente quebrou, e eu não sei o que fazer, e tenho consciência de o quanto
isso pode parecer ridículo e juvenil, só não estou mais a fim de fingir que
tudo-bem, você me entende? e é isso mesmo que eu sou "esse ter nascido me
estragou a saúde" ambulante e crônico. Mas o que estou tentando explicar:
não me sinto em condições de escrever página nenhuma para <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Paralelo</b>, desculpa, Emílio Chagas, você é o melhor companheiro pra
beber e falar de Scott Fitzgerald e Lima Barreto que conheço, desculpa, Giba
Rocha, desculpa, Juarez, eu amo vocês, mas. Entre algumas coisas que pensei em
escrever, uma até chegou a ser esboçada: uma carta aberta para o Jaime
Gargioni, jornalista e gente que uns conheceram, outros não, e que deve estar
na Inglaterra ou sabe deus onde, visto que os Correios e Telégrafos não me
entregam as cartas do exterior (qual é? não trafico drogas nem informações
watergatianas...), mas a carta, a carta era também queixosa, autopunitiva,
bodienta, a única coisa legal era um trecho sobre a Rita Lee, mas atualmente o
que se pode dizer de carinhoso sobre ela é impublicável ou/e punível, pelo
menos do meu ponto de vista paranóico convicto. Pensei também em dar uma geral
no chamado <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">boom</b>-da-literatura-brasileira,
mas todo mundo já falou laudas e laudas sobre isso, eu não teria nada de novo a
acrescentar, a não ser o nome de alguns que acho muito bons e que estão sendo
esquecidos injustamente (porque o <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">boom</b>,
desconfio, é um <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">boom</b> de fundo de
panela) - Lucienne Samôr, Antonio Carlos Vianna, Hilda Hilst, Júlio César
Monteiro Martins, Luiz Fernando Emediato - e que também não são encontrados nas
livrarias porque não são distribuídos decentemente ou nem sequer encontraram
editor. Além disso, dizer o quê? Que é isso aí? Mas se tenho certeza que não é
nada disso. Sei, sei que talvez esteja desperdiçando o que se chama
uma-excelente-oportunidade para, sei lá, rasgar a bandeira, falar mal de todo
mundo, dizer coisas altissonantes que estremecessem as nações e os povos, eia,
sus, avante guerreiro - e agora me lembro do monólogo de Izabel Ibias em <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Sarau Das Nove às Onze</b> (que, segundo o
centro acadêmico da Filô era um espetáculo-alienado-elitista-e (como é que se
diz mesmo?) - ah: pequeno-burguês: "Eu gostaria que as pessoas pegassem
fogo com as minhas palavras. Mas essas palavras eu não tenho". Pois é. E
no momento não me sinto sequer em condições de fingir para alguém/ninguém que
tenho coisas pra dar ou dizer, exceto desorientação, amor contido, raiva e
nojo. Às vésperas duns 28 vividos aos trancos e barrancos, nada tenho de
grandioso a declarar, exceto mediocridades como me-sinto-profundamente-cansado-e-cada-manhã-é-uma-batalha-insana-inventar-um-motivo-pelo-menos-razoável-para-deixar-a-cama-e-enfrentar-as feras. </span><span style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Psiquiatra, já tenho um, não se preocupem, clínica não resolve - quem assistiu </span><b style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Family Life</b><span style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;"> concorda comigo e, porra,
suicídio, também não, quero pelo menos ver no que vai dar tudo isso. E é
justamente a mim, escapista, subjetivo, mórbido e covarde, que vêm pedir essa
tal página. Tem a Tania Faillace, uma das melhores escritoras desta terra, tem
o charme contracultural do Eduardo San Martin, tem a secura-ponta-de-faca do
Carlinhos Carvalho, tem a Ieda Inda linda e índia lá em Florianópolis, tem a
música da linguagem do Sergio Caparelli - logo eu? E justamente </span><b style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">agora?</b><span style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;"> Ô, caras, eu tô perdido no meio
do mato, ando juntando todos os meus cacos para ver se continuo existindo e
entre todos eles não consegui encontrar absolutamente nenhum que me pareça
digno de ser explorado literária ou jornalisticamente (argh!) e trazido na
bandeja, sangrento e palpitante ao (des)conhecimento de vocês. Pilhas de
frustrações, potes de amargura, jarras de desilusão, fadigas e dores tão
mesquinhas e prosaicas e inultrapassadas (porque, acima de tudo, sou ainda um
imaturo - ou, segundo Paulo Hecker Filho,um </span><b style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">delicado</b><span style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">: certo, que escreveu </span><b style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Internato</b><span style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">
tem o direito de chamar até Jean Genet de delicado) que eu não conseguiria
fingir que sou capaz de superá-las para produzir uma brilhante e objetiva
página para a </span><b style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Paralelo</b><span style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">. Já não
acredito em brilhos, minha fase de purpurina já passou, e a obetividade - bem, o
que é mesmo objetividade? Que fazer, então? E os destinos da nação, e as dores
do povo? Hoje é quarta-feira, prometi ao Emílio que entregaria a página amanhã
- são onze horas da noite e tudo que me saiu até agora foi essa deplorável
entregação: isso. A garganta ardida de cigarros, pobre rapaz, a língua gosmenta
de café, coitado, costas doloridas, infeliz de mim. Tem lua cheia lá fora e
sobre a escrivaninha, ao alcance de minha mão, Mário Quintana, Kafka e Adélia
Prado. Quem sabe Kafka me salva. Abro ao acaso: "Depois de quatro visitas,
M. se vai, parte amanhã pela manhã. Quatro dias mais tranquilos, em meio a dias
de tortura. Há um longo caminho entre o fato de que sua partida não me
entristeça (pelo menos não me entristeça realmente) e o fato de que sua partida
me entristeça infinitamente. Francamente: a tristeza não é o pior". Bem,
acho que não ajuda muito... M. será Milena? Ou Max? Reticências. Ah: para
complicar tudo ainda mais, hoje estou naquele estado típico de quem esperou um
telefonema a tarde inteira, sem receber (é ume estado elitista, concordo,
afinal, só uns 10% da população dispõe de telefone - mas acontece). Vocês
sabiam que vão destruir Triunfo? Eu gostaria de escrever intensamente sobre as
muitas viagens à Triunfo e as pedras na beira do rio e a travessia de barca e
os cogumelos e os jasmins-do-cabo e de como me assusta que justamente ali vá
ser instalado o tal Monstro Petroquímico (dizem que tudo-bem, porque os ventos
vão soprar tudo pras bandas de cá...). Mas jamais teria argumentação
suficientemente, digamos, embasada (argh!) para modificar alguma coisa. O
problema é esse, um escritor, um ficcionista, melhor dizendo, não modifica
absolutamente nada. As grandes sacanagem sociais continuam acontecendo apesar
das nossas ficções. Eu não estou querendo que você (ô, cara, você </span><b style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">ainda</b><span style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;"> está aí?) pense que. Ou não. Sei
da minha absoluta ineficiência como escritor. Escreve talvez por uma espécie de
incompatibilidade-de-gênios com a vida, escrevo para reinventar, para organizar
o caos, para não enlouquecer de impotência, para re-fazer. Mas não pense que
não sei do inútil disso. Mário Quintana, Mário Quintana talvez tenha algo a
dizer sobre. Abro, encontro: "Nenhuma pergunta demanda resposta / Cada
verso é uma pergunta do poeta / E as estrelas... / as flores... / o mundo... /
são perguntas de Deus". Os homens também são perguntas de deus, Quintana?
E não demandam resposta? Sinto muito, gostaria de ser capaz, hoje, aqui, agora,
de dizer algo dramático ou poético ou revolucionário ou profundo ou doloroso ou
etc. O mundo. Os homens. Deus. Pois é. Uma quarta-feira besta, com uma
lua-cheia besta no céu, a Rua da Praia estava cheia de gente besta (passar na
Rua da Praia ao anoitecer é concluir que a explosão demográfica é algo
in-cons-ten-tá-vel), vim a pé num ônibus 77 (esotérico...), fui pisado,
humilhado e ofendido, a única pessoa que poderia ter transformado este dia num
negócio menos besta não estava em casa (você nunca tá em casa?) e foi besta
demais eu precisar subir noutro ônibus e tomar banho e jantar e engolir uma
xícara enorme de café preto e fumar incontáveis Hollywoods tentando ser
absolutamente honesto, mas só conseguindo tornar tudo ainda mais besta, onde
andará você nessa besteira toda? Chega, Adélia Prado, quem sabe: "Vamos
dormir juntos, meu bem / sem sérias patologias:/ Meu amor é este ar tristonho /
que eu faço pra te afligir,/ um par de fronhas/ onde eu bordei nossos nomes com
ponto cheio de suspiros". O nome é </span><b style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Psicórdica</b><span style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">,
às vezes dá vontade de sair gritando Porto Alegre afora: "Vamos dormir
juntos, meu bem/ sem sérias patologias". Às vezes parece que a tal
revolução sexual não chegou por aqui - é preciso montar uma barraca na Feira do
Livro só com obras de Wilhelm Reich e um cartaz bem grande com esta frase de
Buñuel: "Semen retetum venenum est". Que se há de fazer, que se há de
fazer? Não costuma ser assim o tempo todo, mas hoje é um dia especialmente
besta. Como costumar ser os dias numa cidade (num mundo?) onde as pessoas cada
vez se falam menos, se tocam menos e têm menos esperança ou alegria - ou será
que estou projetando? Acho que não, Flavio Oliveira já falou disso melhor que
eu no </span><b style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Osso</b><span style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">. Quem assistiu </span><b style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;">O Osso</b><span style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt;"> me entende, e sabe que é assim
que nós estamos, que nós temos nos equilibrado na corda bamba deste Paralelo 30
(como é que é? não era um lugar altamente esotérico? não aconteceriam coisas
incríveis por aqui?). Ficamos à espera de acontecimentos incríveis, ficamos à
espera. E já faz tempo, e a sopa já esfriou, e a mosca já pousou. Alguém me
disse, já faz tempo, num bar: - "um dia alguém precisa virar a mesa ao
invés de só pedir outra Brahma". Arrotou, chamou o garçon (seria o Isaac?)
e pediu outra.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Revista
Paralelo, Porto Alegre, Outubro de 1976<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></p>Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-8171242791590251002020-08-07T10:19:00.000-03:002020-08-07T10:19:17.039-03:00O caleidoscópio Caetano Veloso<p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP0l5PIQR8u2RjKBrw3aqihyphenhyphenKGHqEL6MmOIZQk7PCxZij5pT8Lj0XX0AQT1P4FRKuqAn9sXrfCsKA2TXJmEmiI23f6JT0ApKQZkGadU9ibF6COYIXdnnptjtjF5fyliAzhy6vZ3nX6f-n5/s1073/Cae_Caio_capa.jpg" imageanchor="1" style="display: inline !important; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; padding: 1em 0px; text-align: justify;"><img border="0" data-original-height="1069" data-original-width="1073" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP0l5PIQR8u2RjKBrw3aqihyphenhyphenKGHqEL6MmOIZQk7PCxZij5pT8Lj0XX0AQT1P4FRKuqAn9sXrfCsKA2TXJmEmiI23f6JT0ApKQZkGadU9ibF6COYIXdnnptjtjF5fyliAzhy6vZ3nX6f-n5/s640/Cae_Caio_capa.jpg" width="640" /></a></p><p><span style="font-family: arial;"><i>7 agosto: aniversário de Caetano Veloso. Caio F. adorava Caetano Veloso. O texto abaixo foi escrito por ele em agosto de 1989, quando <span style="text-align: justify;">Caetano foi o homenageado do Prêmio Shell para a música brasileira. E ficou regristrado na contracapa de um disco, uma coletânea com 13 de suas canções, lançada então. Ei-lo:</span></i></span></p><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Qualquer antologia da obra de Caetano Veloso guarda uma facilidade apenas aparente. Fácil, sim, pela qualidade impecável de seu trabalho. Mas dificílimo por sua vas</span>tidão. Porque há muitos
Caetanos. Desde o vanguardista decidido a atuar radicalmente sobre os destinos
da música popular brasileira, com <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Alegria,
Alegria</i>, em 1967, até o cantor cada vez mais refinado - capaz de dar nova
vida à música de outros compositores, de Noel Rosa a Djavan, de Carlos Gardel a
David Byrne, de Humberto Teixeira a Cazuza. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Dentro dos muitos Caetanos,
na verdade talvez exista somente um. E esse é vasto o suficiente para, na sua visão
de mundo, abarcar tanto os estados amorosos mais íntimos e encantados (ou
desesperados) quanto a alma de uma cidade, de um país ou do próprio planeta.
Saindo de si, ele contempla a sua pequenez e a pequenez do humano perdido num
planetinha azul a girar num infinito incompreensível, em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Terra</i>, ou mergulhando em si, confessa-se inevitável e nobremente
piegas em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Muito Romântico</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E ao contrário do que todos
pensam, Caetano não é baiano. De Bahia, é certo guardou a ligação com a África,
origem de tudo, seus deuses vigorosos e ritmos primitivos - fundamentais em sua
música. Mas na vastidão que abriga em seu corpo exíguo, ampliou-se para,
alegoricamente, definir um país inteiro na sucessão de imagens pop-místicas de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Tropicália</i>, para cantar a alma das
cidades brasileira (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sampa</i>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aracaju</i>) ou não (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">London London </i>ou a Barcelona que inspirou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vaca Profana</i>). Por estar atento às almas - das cidades, dos países,
das pessoas, das coletividades - adquiriu (ou sempre teve?) o estranho poder de
concentrar às vezes num só verso, todos os mistérios da condição humana. No ato
simples de beber um refresco de caju, ele sabe localizar aquela questão que, em
todos os tempos, sempre foi a mais fundamental do homem: "Existirmos a que
será que se destina?"<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Nem a esta, nem a outras
perguntas Caetano tem respostas. Elas não cabem no universo dos poetas, dos
filósofos, dos antropólogos, dos cientistas sociais, dos psicanalistas ou de
todos aqueles que, feito os monges, praticam o ofício de contemplar com amor.
Esse olhar - saudoso, furioso, melancólico ou visionário, mas sempre e
basicamente amoroso - percorre toda a obra de Caetano. Como aquela linha que
reúne os retalhos coloridos e díspares de um patchwork. Ou o triângulo de
espelhos que reflete e geometriza contas e pedacinhos de papel nas mandalas de
um caleidoscópio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Esse caleidoscópio-Caetano,
você pode girá-lo nas mãos para encontrar subitamente samba e rock. Dalva de
Oliveira e Bob Marley, frevo e fado, Amália Rodrigues e John Lennon, bolero e
reggae, Elvis Presley e Vicente Celestino. Por ser uma fronteira, aquela que
com uma guitarra elétrica dividiu a música brasileira em antes e depois dele,
Caetano não tem fronteiras. Depois dele e além dele, mas principalmente dentro
dele, foram liberados a todos os riscos e prazeres de provar qualquer dos
frutos do Jardim do Éden das maravilhas (e horrores) contemporâneos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXh22e-Us2_bsbVZEoAKA-lwAUg98Lj4zJa2zvyBAVkyMIEwLP5Q76PAtyi7IfzqQdqiRSkjRkt0Lxsc4lDpaQK8ToEtEqXFlGMSw32dbCfvZZIbczdFQGezrRycKpbF_b9h0kCfsGlcMD/s1200/Cae_Caio.jpg" imageanchor="1" style="display: block; padding: 1em 0px;"><img border="0" data-original-height="1191" data-original-width="1200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXh22e-Us2_bsbVZEoAKA-lwAUg98Lj4zJa2zvyBAVkyMIEwLP5Q76PAtyi7IfzqQdqiRSkjRkt0Lxsc4lDpaQK8ToEtEqXFlGMSw32dbCfvZZIbczdFQGezrRycKpbF_b9h0kCfsGlcMD/s640/Cae_Caio.jpg" width="640" /></a></div><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sobre todos os horrores dos
"homens que mataram Pixote" ou "da força da grana que ergue e
destrói coisas belas", paira o olhar terno, compreensivo de Caetano.
Voltado para a identificação do nobre e do belo que deva existir no humano.
Caetano não rejeita a flecha negra do ciúme ou de outra emoção "menos
digna" que possa habitar os corações. Canta o escuro e o claro, o puro e o
contaminado, o ouro e a lama: são outras palavras, essas, as que provocam a
jóia escondida no fundo das mentes abissais das criaturas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Talvez um dia, num futuro
muito remoto, quando algum pesquisador maluco resolver reconstituir com
exatidão o perfil de uma época e da sensibilidade humana dentro dessa época, a
obra de Caetano possa servir de mapa. Mapa que, apesar de seus dez mil
caminhos, concentra-se clara, definida, nesse fato ao mesmo tempo simples e
complicado: Caetano Veloso é muitos. Tantos, quanto nós todos somos.
Conhecê-lo, do lugar pequeno onde nasceu até o confronto com as ideologias
corruptas e manipuladoras, será sempre conhecer um palmo a mais das nossas
tantas faces e dessa História - trágica e mágica - que nos cerca.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> <i> </i><i>Caio Fernando
Abreu<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>SP/RJ, agosto de 1989</i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></p><br /><p></p>Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-32436220521266946942020-02-25T12:31:00.001-03:002020-02-25T12:31:28.343-03:00Nos amávamos tanto<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhinmcrOCLenmi_dnwVv1mwJLKE3q_-fAR3ad5QF30aIq8tcTAuriCGH_p-MNcxv5uurgBlmTGRm66BGeprtys7BG1Hxdz9p4bW4VUiKEQX8AmM_upNU0_EoqDOO9uj5A_QbrB9mEe5dxQB/s1600/CaioF.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="921" height="459" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhinmcrOCLenmi_dnwVv1mwJLKE3q_-fAR3ad5QF30aIq8tcTAuriCGH_p-MNcxv5uurgBlmTGRm66BGeprtys7BG1Hxdz9p4bW4VUiKEQX8AmM_upNU0_EoqDOO9uj5A_QbrB9mEe5dxQB/s640/CaioF.png" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-large;">Nos amávamos tanto</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> </span><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Luiz Antônio Martinez Corrêa, Cacaso, Henfil: </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> para onde
foram aqueles sonhos dourados?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Entre minhas muitas
obsessões, existe um poema. Curtinho, absolutamente simples, chama-se Idade
Madura e tem apenas estes quatro versos: "Meu coração anda inquieto e
sufocado/ Como na infância, nas noites de tempestade./ É risonho o meu futuro?
Minha solidão é indescritível". Seu autor: Cacaso. Final do ano passado,
aparentemente por razão nenhuma, como acontece com as obsessões grandes ou
pequenas, poéticas ou não, o poema voltou com toda força. Eu passava os dias a
recitá-lo, debruçado sobre o microcomputador do astrólogo Pedro Tornaghi, no
Rio de Janeiro, conscientemente me recusando a ler jornais, ver televisão ou
entrar em contato com qualquer meio de comunicação capaz de tornar mais
presente esta coisa difícil - o mundo real. Até que não aguentei, arrumei um
rádio.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A primeira notícia que o
rádio trouxe foi: o diretor teatral Luiz Antônio Martinez Corrêa (era ótimo,
dele vi Theatro Musical Brasileiro 1914-1945, talvez o melhor espetáculo em
cartaz no Rio), 37 anos, tinha sido assassinado com 80 facadas. Desliguei o
rádio. E só saí de casa no dia 30 de dezembro para uma manifestação na praça
Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Além da missa de sétimo dia em memória de
Luiz Antônio, artistas, intelectuais e nem artistas nem intelectuais, mas apenas
pessoas preocupadas com a justiça, pediam providências à polícia contra o assassinato,
entre 1984 e 1987, de cerca de 300 homossexuais no país. Sob o sol de quase
quarenta graus, muita gente chorava.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O mais irônico era lembrar,
naquela pracinha de Ipanema, de 15 ou 20 anos atrás, como aquele espaço tomado
por centenas de pessoas (algumas delas estavam lá) coloridas e cheias de vida,
acreditando nos novos tempos de paz e amor. Cabeça baixa, a gente lembrava. E
nem Chico e Caetano cantando, nem Fernanda Montenegro recitando linduras de
Adélia Prado, nem a dignidade de Marieta Severo, nem mesmo o sol, o céu azul de
verão, nem mesmo a enorme ciranda da multidão cantando de mãos dadas Aquarela
do Brasil ou a chuva de papel picado dos edifícios na Visconde de Pirajá eram
capazes de esconder que o horror está solto na cidade do Rio de Janeiro e no
Brasil. Aos gritos ou em silêncio, pediam-se providências para todos esses
crimes com características semelhantes (cordas, facadas e asfixia) demais para
serem mera coincidência.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Voltei para o
microcomputador de Pedro disposto a manter o mundo real à distância, pelo menos
até terminar nosso trabalho. E consegui. Caminhar de tardezinha na praia, ao
mesmo tempo em que trazia de volta aqueles versos assustados de Cacaso, trazia
também os de Adélia, que Fernanda Montengro disse na praça: "A Vida é tão
bonita/ basta um beijo/ e o universo se recompõe/ uma necessidade cósmica nos
protege". Pois - eu repetia olhando o horizonte do mar - o Senhor não há
de abandonar quem, nestes tempos, ainda ousar o beijo e quiser beber dessa
beleza da vida. A necessidade é cósmica/ e nos protege. Mas, entre as iluminações
de fé, voltavam também, obsessivos, aqueles quatro versos de Cacaso e seu clima
de desamparo. E, agora, o que vai acontecer?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Dia de voltar, no aeroporto,
comprei uma revista. Lá estava: dias antes, Cacaso tinha morrido de um enfarte
fulminante, e eu nem sabia. Então retomar São Paulo, dura sampa estranhamente
deserta, as chuvas de verão, certos dias como estar dentro de um oco cheio de
espinhos, depois a morte de Henfil, com todo o horror voltando à tona. No
caderno Idéias do Jornal do Brasil, no último sábado, numa matéria chamada Nós
Que Nos Amávamos Tanto, Wilson Coutinho, Zuenir Ventura e Tárik de Souza fazem
um balanço melancólico da geração que viveu aqueles anos dourados de 68. E
agora tenta seguir em frente, entre Aids, assassinatos, suicídios, mortes
precoces, secas desilusões e escassas esperanças.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não sei dizer nada cegamente
luminoso para encerrar. Perdoe eu não voltar como quem traz um sorriso nos
lábios e flores e frutas nas mãos. Mas imagino que você sinta algo semelhantes
àquele susto manso do poema do Cacaso e acho que sempre nos podemos olhar nos
olhos ao perguntar: "É risonho o nosso futuro?" Então, mesmo sem
convicção nem certeza, responder que sim, que sim, que sim. Porque não há de
ser inútil, mente.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> <i> Caderno 2, OESP, 13 de
janeiro de 1988</i><o:p></o:p></span></span></div>
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-7508908242668667482019-11-28T16:36:00.000-03:002019-11-28T17:16:20.626-03:00A CARTA FURIOSA DE CAIO F. PRO PASQUIM<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiji9pFn9VBYcOViKnef9wiWgrJtTTGAElbHQEf2QDI24bMl0-T96-i5y8QqwIr4r6KegCTdmjnyncYASG6mxIORsVsQcp1zbeRFLx2rvhSLeZ3UXZU1gJMrjv8vgcjIJ1IZP0c4G-Nj0KL/s1600/CAIOFOTO+-+Copia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="493" data-original-width="351" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiji9pFn9VBYcOViKnef9wiWgrJtTTGAElbHQEf2QDI24bMl0-T96-i5y8QqwIr4r6KegCTdmjnyncYASG6mxIORsVsQcp1zbeRFLx2rvhSLeZ3UXZU1gJMrjv8vgcjIJ1IZP0c4G-Nj0KL/s640/CAIOFOTO+-+Copia.jpg" width="454" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quem assistiu não esquece Caio Fernando Abreu chamando Rachel de Queiroz de latifundiária e
reacionária no programa Roda Viva (o vídeo tá no youtube). Pois esta carta aqui tem o mesmo teor, com a ira santa de Caio voltada ao Pasquim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb19046rHPpYOF8RrjBZJ4YmcLUATwlDVyMePQcCTs4EWo7KoFeNv_KvK3I4nzK7v_tU9UZGjc43SITVZ03DEp1cpQH6WhVDXFQsDVwW6pT5vyGbqQ6sX1yzn30wHtk6Hd6dSOTSUCP2r7/s1600/Caio1_Z.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="478" data-original-width="705" height="216" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb19046rHPpYOF8RrjBZJ4YmcLUATwlDVyMePQcCTs4EWo7KoFeNv_KvK3I4nzK7v_tU9UZGjc43SITVZ03DEp1cpQH6WhVDXFQsDVwW6pT5vyGbqQ6sX1yzn30wHtk6Hd6dSOTSUCP2r7/s320/Caio1_Z.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O entrevistão de O Pasquim, em 1977</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Era 1977. A Codecri, editora
do Pasquim, publicou <b>Histórias de Um Novo Tempo</b>, coletânea de contos com seis autores "novíssimos" - Caio Fernando Abreu, um deles. E quatro foram reunidas para uma das célebres
entrevistas, com direito a chamada de capa: "A ala jovem da
literatura dá seu recado". O Pasquim, então, andava
distante dos tempos mais libertários como o da entrevista com Leila
Diniz, por exemplo, e havia uma nova geração chegando - Caio, tinha 29 anos e já havia publicado três livros: <b>Inventário Do Irremediáve</b>l (Contos, 70), <b>Limite Branco</b> (romance, 71) e <b>O Ovo Apunhalado</b> (contos,75), o
primeiro a despertar mais atenção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12pt;">Com quatro páginas, o
entrevistão rendeu uma carta em que Rogério Monteiro dizia que conhecia Caio F.
e que ele renderia sozinho muito mais do que os que foram reunidos. A resposta
do Pasquim foi debochada (no final). Resultado: Caio Fernando Abreu, furioso,
escreveu uma carta para o Pasquim sobre o que achava da entrevista, do reacionarismo
do jornal e muito muito mais, praticamente um documento sobre aquele quase
final de década quando Rita Lee era presa com maconha, </span><b style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Odara</b><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12pt;"> do Caetano Veloso era
alvo de "patrulhas ideológicas".... Não lembro de ter lido essa carta
em nenhum dos livros publicados sobre ele.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Abaixo a carta de Caio. E no
final, a que a originou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><b><span style="font-size: 12pt;"> </span><span style="font-size: large;">A CARTA DE CAIO F. PRO PASQUIM</span></b><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12pt;">Porto Alegre, 18 de agosto de 1977</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Seu Edélsio (?):<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br />
Como não costumo mais ler <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O Pasquim</b>,
somente hoje, através de outra pessoa, tomei conhecimento da carta enviada a
vocês por Rogério Monteiro, a respeito da entrevista sobre <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Histórias de Um Novo Tempo</b>. E também da resposta. Grossa e imbecil
como, suponho - já que não perco tempo com imprensa pseudoliberal, chauvinista
e reacionária -, costumam ser as respostas de vocês.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Certamente, ou quase, vocês
não publicarão esta carta. A não ser com os costumeiros e arbitrários cortes.
Ou/e com uma resposta idiota. Antes de mais nada, quero deixar algumas coisas
bem claras: não tenho o hábito de escrever para jornais ou revistas (a não ser
quando pegam no meu pé) e nem estou querendo aparecer no <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Pasquim</b>. Caretice por caretice, meu irmão, no final das contas, a <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Manchete</b> é o mesmo caldo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">"Seu Edélsio" - eu
não admitiria nem que Otto Maria Carpeaux (você já ouviu falar?) viesse a dizer
que os autores - ou eu, especificamente - de <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Histórias de Um Novo Tempo</b> - "na base do pau" poderiam
"aprender alguma coisa que não fosse ler livrinho ou revistinha estrangeira".
Seu moço, eu estou fazendo 29 anos, tenho muita estrada nas costas e não sou
nenhum imbecil. Simplesmente dispenso orientações - de quem quer que seja - no
meu trabalho de criação literária. Censura basta uma, cara. E vocês confundem
descolonização cultural com fechamento cultural: proibir ou criticar a leitura
de literatura estrangeira (e você acha que os autores que leio - estrangeiros
ou não<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>- alguma vez escreveram <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">livrinhos</b>?) é exatamente a mesma
atitude de baixar censura prévia sobre a imprensa estrangeira. Isso é
FECHAMENTO CULTURAL, moço. Isso é FAS-CIS-MO, chê.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E tem mais: eu ia ficar
quieto no meu canto porque tenho nojo de intrigas e bastidores literários, mas
chega de levar paulada e ficar quieto. É assim que o nosso povo está vivendo há
13 anos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMAq_e6sYlPt3yAHv26IYQV9sn8gyWe92BkVvnyHsaVfeTV6sfiMr_yZAOfb8nO1As2ONKWtIgTttHCPpkaBrCcb8E6GVctbluTJmSnW9gxkErcoP50HtGPFmoUsx-LaxAgrL5E8LuQCiw/s1600/Caio+Carta.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="720" height="295" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMAq_e6sYlPt3yAHv26IYQV9sn8gyWe92BkVvnyHsaVfeTV6sfiMr_yZAOfb8nO1As2ONKWtIgTttHCPpkaBrCcb8E6GVctbluTJmSnW9gxkErcoP50HtGPFmoUsx-LaxAgrL5E8LuQCiw/s400/Caio+Carta.png" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu quero dizer que aquela
ridícula entrevista foi CORTADA E DISTORCIDA ARBITRARIAMENTE. Segundo estou
informado, um jovem (cujo nome prefiro omitir), dizendo-se autorizado por mim a
cortar algumas de minhas declarações foi o autor desse troço. Eu pedi apenas
que cortasse o que eu disse sobre (...) (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">NR
- Seu pedido foi atendido</b>). A não que vocês, além de reacionários, sejam
também dedos-duros. O que eu não duvidaria. Bem, cortaram tudo. Desde um
depoimento - a melhor coisa da noite - do escritor João Silvério Trevisan - até
minha reação à agressividade do Cícero Sandroni e a minha resposta a uma
pergunta de Félix de Athayde. "Você está defendendo o João Silvério por
gostar do livro dele ou porque vocês dois são homossexuais?". Eu respondi:
"Eu sou bi-sexuado, Félix. Como todo mundo. Inclusive você. A diferença é
que eu admito isso e vocês não".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Olha, moço, eu não tenho
moral pública nenhuma a defender. Eu sou exatamente o que sou, ou o que a
geração estúpida de vocês fez com que a minha se tornasse. Acontece que neste
país, e nesta imprensa moralista, verdade é sinônimo de escândalo. E é, no
mínimo lamentável, perceber que justamente vocês, que se supõem tão liberais,
venham com esse tipo de atitude MEDIEVAL. Tapar o sol com a peneira, cara? Mas
se o mundo tá podre, meu irmão. Se tá tudo caindo aos pedaços e a única coisa a
preservar (difícil quando se está em contato com certo tipo de máfia) é uma
certa dignidade humana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">São caras como vocês que
estão tentando destruir Caetano e Gil. São caras como vocês que provocaram,
indiretamente, a loucura, a prisão e a cegueira de Maura Lopes Cançado. São
caras como vocês que prenderam Rita Lee. São caras como vocês que expulsaram
José Celso Martinez do país. Ou Rogério Sganzerla. Ou Helena Ignez. Ou Julio
Bressane. Por não terem se habituado ainda à idéia de que OS TEMPOS SÃO OUTROS,
de que a década do 70 tá no fim e todos os conceitos marxistóides de vocês
criaram mofo, de que entre a minha geração e a de vocês existe um abismo onde
cabem o tropicalismo, os Beatles, os tóxicos, as viagens de carona, as
comunidades, a macrobiótica, a ioga, Timothy Leary, a ecologia, o aumento no
índice de loucura y otras cositas más. Não há diálogo entre nós porque a mente
de vocês é estreita demais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quanto ao <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">HISTÓRIAS DE UM NOVO TEMPO</b>, suponho que
a Codecri já tenha faturado bastante em cima dos"novíssimos". É bom
dizer: a Codecri não nos deu sequer passagem para ir até o Rio (eu moro no Sul,
e sou jornalista, e ganho pouco). A Codecri não divulgou o nosso nome nos
lançamentos: ficamos sempre à sombra de Otávio Ribeiro e seu <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Barra Pesada</b>, tratados como "pobres
jovens a quem estamos dando uma chance". Eu quero que as chances de vocês
vão para o inferno. E se quiserem colocar meu nome no <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">índex</b> do <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Pasquim</b> (deve
ter um, não? pois até o Vaticano tem) eu vou achar até bom.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Talvez eu devesse ser mais
contido ou mais <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">brittish </b>(para seu
governo, moço: leio inglês, espanhol, italiano, francês, entendo alguma coisa
de sueco e estou estudando alemão) - já que para Félix de Athayde não passo de
um "inglês de fronteira". Inglês de fronteira que aprendeu na porrada
a lidar com gente medíocre e baixo-astral, e que cada dia prefere conhecer mais
as plantas e os animais do que seres humanos de um certo tipo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu acho tudo isso péssimo, e
gostaria de não ter sido praticamente forçado (por mim mesmo) a escrever esta
carta. Mas isso é exatamente o que penso a respeito de vocês, e de toda uma
imprensa dita liberal. A gente fica pensando na <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">mysérya do lyberalysmo</b>, de Glauber Rocha. A propósito, vocês já
ouviram Nara Leão cantando este Erasmo Carlos: "mas não polua minha
cultura / não venha dividir comigo sua autocensura/ me desencontre/ não me
prostitua/ Se não seremos mais uma carcaça em desgraça por aí"<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mas a minha (e a de minha
geração) grande vingança, bichos, vocês jamais entenderão: é que vocês nunca
conseguirão ficar ODARA, entendeu? O mais são lembranças agradáveis do tempo
que Luiz Carlos Maciel perdeu fazendo páginas e páginas para vocês.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Meus pêsames.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sem açúcar nem afeto (P.S.) Rogério
Monteiro <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">existe</b>, palhaço, é um
jornalista gaúcho que vive em Salvador. Flagrou? Po*** nenhuma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Caio Fernando Abreu<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">(Rua Chile, 661, Jardim
Botânico/Porto Alegre, RS)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Brittish
é com um t só </span></b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">(PS: ESSA FOI A "RESPOSTA" DO PASQUIM)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;"> A CARTA DE ROGÉRIO MONTEIRO</span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdbPcKAU9g8qfZrsH4fCE2ExTcnRVCIj5-BNcMcEkftteFn2RXH04kWqNHzLnU5HolLQUjYcrLuA43RcOOxvUylQdVAiwN2oWZMi4X35mrZFsUCbd-G2Yus2DTt-iO4Y1_4N_88I_UYvNy/s1600/Caio_Carta2.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="544" data-original-width="223" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdbPcKAU9g8qfZrsH4fCE2ExTcnRVCIj5-BNcMcEkftteFn2RXH04kWqNHzLnU5HolLQUjYcrLuA43RcOOxvUylQdVAiwN2oWZMi4X35mrZFsUCbd-G2Yus2DTt-iO4Y1_4N_88I_UYvNy/s320/Caio_Carta2.png" width="131" /></a><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: start;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">BAIANO BOM DE FIBRA, BOM DE CUCA E CORAÇÃO</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">"Escuta, Edélsio, eu
não me ligo nesse negócio de ficar escrevendo cartinhas, mas resolvi uma
exceção para levar até vocês - editores de uma das poucas fontes de informação
"legíveis" do país - meu protesto pela bundamolice que foi a
entrevista "Quatro Histórias do Nosso Tempo" (Pasquim 422). Digo isso
porque conheço bem a obra do gaúcho Caio Fernando Abreu e garanto que ele
sozinho teria condições de dar um recado melhor nas quatro páginas gastas com a
matéria. Dos demais participantes, conheço apenas os trabalhos apresentados no
livro editado pela Codecri. Mas acredito que teriam muito mais a dizer e só não
o fizeram por serem cortados, agredidos e, principalmente, condicionados pelos
entrevistadores (destaque para aquela besta do Cícero Sandroni) a colocar todo
papo no plano político direto. Acho que vocês estão velhos e... "ROGÉRIO
MONTEIRO" (Salvador (?) BA (?))<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Concurso
de Contos, "Rogério Monteiro", não é aqui, não. E qualquer tentativa
de colocar qualquer papo em qualquer tipo de plano político direto é sempre
saudável. "Rogério Monteiro", "você" acha que eles foram
agredidos, é? Antes sesse. Ao menos assim poderiam, na base do pau, aprender
algumas coisa que não fosse ler livrinho ou revistinha estrangeira. Vá
emborgear um cortázar, "Rogério Monteiro". E teu sotaque, além do
mais, é de Minas, nunca da Bahia. Te Flagrei, boneco!!!<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-60963325088226943312019-08-14T12:31:00.002-03:002019-08-14T12:31:19.879-03:00Amizade Telefônica<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirwon3rcH96MMhgzpCrDcstFRr6a5kd_El6XslxdPVYQkoZZx97-ux1SjWftqnGo95ya31EzthmSCdo-lLZ5Hwtuijb0nFGqJXrxljtsY-1lewjnx8M9t2NwEb5fEcozEyqTYJnplZnhwU/s1600/8678ef56-f0ad-46bf-a1b8-634a449f3bbd.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="886" height="389" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirwon3rcH96MMhgzpCrDcstFRr6a5kd_El6XslxdPVYQkoZZx97-ux1SjWftqnGo95ya31EzthmSCdo-lLZ5Hwtuijb0nFGqJXrxljtsY-1lewjnx8M9t2NwEb5fEcozEyqTYJnplZnhwU/s640/8678ef56-f0ad-46bf-a1b8-634a449f3bbd.png" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ilustração da coluna de Caio F. quando publicada no Caderno 2, em maio de 1986</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Amizade telefônica</span><span style="font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><i>Palavras, sentido e lógica
ganham novos sentidos quando se fala sem se ver</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;">Amigos telefônicos são
preciosos. E por isso mesmo, raros. Eu tenho três ou quatro, e bastam. Amigo
telefônico é assim: você só fala por ele por telefone. Ou fala pessoalmente
também, mas é completamente diferente. Quando você encontra muito seguido um
amigo telefônico, a amizade se divide em duas amizades paralelas: a que
acontece cara a cara, e a que acontece telefonicamente. Esta sempre mais funda.
Há coisas que só se diz por telefone: Telefone elimina rosto, gesto, movimento:
a voz fica absoluta. O que a voz diz, ao telefone, é tudo, porque por trás dela
não acontece nada como um franzir de sobrancelhas, um riso no canto da boca. E
se acontece, você não vê. O que você não vê praticamente não acontece. Ou
acontece tão vagamente que é como se não.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrxL8geRCLK5nCx-MBsehqPzk_uk3V6lKYch2sLTy0V3OzXwlBTlC26rffXOnvgSGx7ldsHlNggnO7FgxHzBwdyZCRGvhBVdI4d1Nkz6cn6nSjolkeKOPKG5swiNBKRAvCe2HLl22cDAAq/s1600/8678ef56-f0ad-46bf-a1b8-634a449f3bbd.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="886" height="194" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrxL8geRCLK5nCx-MBsehqPzk_uk3V6lKYch2sLTy0V3OzXwlBTlC26rffXOnvgSGx7ldsHlNggnO7FgxHzBwdyZCRGvhBVdI4d1Nkz6cn6nSjolkeKOPKG5swiNBKRAvCe2HLl22cDAAq/s320/8678ef56-f0ad-46bf-a1b8-634a449f3bbd.png" width="320" /></a><span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;">A gente recorre a um amigo
telefônico quando alguma coisa não cabe por dentro. Não apenas dor - assim,
tipo CVV -, porque se fosse isso, virava neurose braba, feia. Depois de um
certo ponto de aluguel, vez que você ligasse, então, teu amigo telefônico ia
dizer que não estava. Com toda razão. A gente recorre a ele quando alguma coisa
boa não cabe dentro sozinha: tem que ser dita.Você liga para dizer que está
feliz. Teve uma iluminação, pressentimento, uma fantasia, desejo. As pautas
desenvolvidas na amizade telefônica podem ser muito abstratas, entende? E essa
é outra das grandes diferenças entre a amizade telefônica e a outra: poder
falar de coisas que quase aconteceram. Ou que deviam acontecer. Um pouco como
em carta.Antigamente, carta era o equivalente do telefone. Quando não tinha
telefone - há muitos, muitos anos - eu tive vários amigos-por-carta. Por, que
na carta, também, você diz coisas que, cara a cara, nunca seriam dizíveis. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;">Amigo telefônico é noturno.
A vontade de falar com ele costuma acontecer quando não há mais nada
interessante na TV, quando todos os livros e todos discos do mundo não matariam
a sede de ouvir uma voz humana dizendo coisas que respondam ou complementem ou
rebatam outras coisas que a sua voz vai dizendo. E vai dizendo sem preocupação
de ordem, de lógica, de senso. Com amigo telefônico, toda preocupação de
parecer lúcido, consciente & equilibrado é inteiramente desnecessária. Se
uma terceira pessoa ouvisse um papo entre dois velhos amigos telefônicos,
provavelmente acharia completamente louco. Na amizade telefônica, a lógica é
tão sutil que parece não existir. Mas existe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrxL8geRCLK5nCx-MBsehqPzk_uk3V6lKYch2sLTy0V3OzXwlBTlC26rffXOnvgSGx7ldsHlNggnO7FgxHzBwdyZCRGvhBVdI4d1Nkz6cn6nSjolkeKOPKG5swiNBKRAvCe2HLl22cDAAq/s1600/8678ef56-f0ad-46bf-a1b8-634a449f3bbd.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="886" height="194" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrxL8geRCLK5nCx-MBsehqPzk_uk3V6lKYch2sLTy0V3OzXwlBTlC26rffXOnvgSGx7ldsHlNggnO7FgxHzBwdyZCRGvhBVdI4d1Nkz6cn6nSjolkeKOPKG5swiNBKRAvCe2HLl22cDAAq/s320/8678ef56-f0ad-46bf-a1b8-634a449f3bbd.png" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;">Há também os silêncios.
Silêncio de amizade-cara-a-cara quase sempre soa (???) constrangedor. As
pessoas desviam os olhos, acendem cigarros, fazem comentários tipo nada-a-ver,
só para quebrar o silêncio. Em amizade telefônica, nunca: um fica ouvindo a
respiração do outro durante muito tempo. E não precisa dizer nada. A respiração
do outro fala olha, estou aqui, está tudo bem, seja o que for, vai dar certo,
estou atento ao seu coração, você está atento ao meu, e por estarmos atentos ao
coração um do outro, só por isso - ele fica mais leve, o coração.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;">Agora são sete horas da
manhã, estou pensando em meus amigos telefônicos. Mas não telefono. Amigo
telefônico costuma dormir até tarde, principalmente às segundas-feiras - porque
as noites de domingo - ah, essas: são praticamente telefônicas. E eles são
solitários, esses amigos meio estranhos: ouvem vozes. Por isso mesmo, ponho um
disco de João Gilberto bem baixinho e dou um beijo à distância na testa de cada
um deles. Envio pelo espaço a voz de João para embalá-los nesse sono da manhã
feriada e chuvosa. Que nem canção-de-ninar - me liga, tá?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"> <i>OESP, Caderno 2,
Terça-feira, 27 de maio de 1986</i><o:p></o:p></span></div>
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-81760571972061853532019-08-09T16:59:00.002-03:002019-08-09T16:59:28.928-03:00Carta anônima<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjG7wTLCIxDc_Fy82JZ671VEsvvuPZYNCUbZGzisI7xc5xxLl8fkDLN-qQAaFzfoCg9fpj0HjLJ_hsaXQD2kwhKSVGALjVxWgibs-unp1R_Z8cO1zNGWI2srGOImAbXS1W6upvAfTWy7JbL/s1600/Caio_F.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="399" data-original-width="455" height="560" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjG7wTLCIxDc_Fy82JZ671VEsvvuPZYNCUbZGzisI7xc5xxLl8fkDLN-qQAaFzfoCg9fpj0HjLJ_hsaXQD2kwhKSVGALjVxWgibs-unp1R_Z8cO1zNGWI2srGOImAbXS1W6upvAfTWy7JbL/s640/Caio_F.png" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;"> Carta anônima</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> <i> Para ler ao som de Melodia
Sentimental,</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i> de Villa-Lobos, cantada por Olivia Byington</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tenho trabalhado tanto, mas
penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que
parecem poeira assentada aos poucos, e com mais força enquanto a noite avança.
Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem
de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai fazer
assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não
dormisse cedo e estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos
quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de
vidros entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles tem uma
borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte,
onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela.
Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas são sempre
bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada do que
eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Daí penso coisas bobas
quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto
a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando
não encontro lugar para sentar, o que é mais frequente, e me deixava irritado,
agora não, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em
você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa
posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuram
nos pés delas aqueles que poderiam ser os seus. (A Teus Pés, lembro.) E fico
tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em
alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você - seria, seriam?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Boas e bobas, são as coisas
que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de
cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças
pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar
sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer
lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento
e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu
também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a
gente tem muito poder de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos
pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, não
tem jeito, e tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil
como a voz de Olivia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de
Wagner, mais Chagall que Van Gogh, mais Jarmusch que Win Wenders, mais Cecilia
Meireles que Nelson Rodrigues.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tenho trabalhado tanto, por
isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando
penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio
melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa
vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos
tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e
nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca na minha mão, eu toco na
sua. Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem
dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão
cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas contra a areia branca do
fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar
desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de
ferro para meu corpo balançar como se estivesse à bordo de um navio ou de você.
Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Suspiro tanto quanto penso
em você, chorar só choro às vezes, e é tão frequente. Caminho mais devagar,
certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente,
mas penso tanto em você que na hora de dormir vezenquando até sorrio e fico
passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz
baixa te amo tanto dorme com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo
do mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> <i>Caderno 2 - Quarta-Feira, 16
de março de 1988</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiycXtYrRKOjMx5jYmEJEUTd2hgrztmK3B0GET25INiOQz3eM41jfOzNSp03e2oSlQPKmjGx0MvssNinRuvig9DbOFok7HRnoU1Us1wJE1Tm_d_ZJeeS0qtE6w9ddrR3X3NLc1snckk5AyK/s1600/63bf4bc4-aaa3-4cfd-b9ab-0c2c769ed6cc.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="651" data-original-width="953" height="436" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiycXtYrRKOjMx5jYmEJEUTd2hgrztmK3B0GET25INiOQz3eM41jfOzNSp03e2oSlQPKmjGx0MvssNinRuvig9DbOFok7HRnoU1Us1wJE1Tm_d_ZJeeS0qtE6w9ddrR3X3NLc1snckk5AyK/s640/63bf4bc4-aaa3-4cfd-b9ab-0c2c769ed6cc.png" width="640" /></a></div>
<br />
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-9104258186125659072019-03-28T17:31:00.002-03:002019-03-28T17:31:18.222-03:00Frank Sinatra pelo jovem Caio F.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu6INGo0PdpHv_khA2q0SRfbtwFe6A-Zr9PWAa4i5H_k0b3H1-zzY3PgWWc_A0vYYSTqjRX68fk8bpMxDNVr3jL4oQD7eFLK9s5QuuIicS0ZvmLYfcUy9FZBsoAWZGmtYgQR-YkH-i6wJM/s1600/MAn+2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="506" data-original-width="738" height="436" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu6INGo0PdpHv_khA2q0SRfbtwFe6A-Zr9PWAa4i5H_k0b3H1-zzY3PgWWc_A0vYYSTqjRX68fk8bpMxDNVr3jL4oQD7eFLK9s5QuuIicS0ZvmLYfcUy9FZBsoAWZGmtYgQR-YkH-i6wJM/s640/MAn+2.png" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Uma única matéria assinada -
apenas uma - registra a passagem de Caio Fernando Abreu pela revista <b>Manchete</b>. Repare
no canto inferior da foto acima, a assinatura à esquerda: Texto de Caio Fernando
Abreu. E matéria de capa com Frank Sinatra, oito páginas muita foto e pouco
texto, que anunciava sua retirada dos palcos aos 30 anos de carreira. O texto
começa assim:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">"A decisão não foi
tomada de improviso. Ao contrário, foi longamente amadurecida. Há dois anos e
meio, como ele mesmo disse na semana passada em sua casa de Palm Springs,
Califórnia, Frank Sinatra vinha pensando em abandonar o "mundo dos
espetáculos e da vida pública", para usar a expressão do texto conciso e
bem feito em que o cantor/ator se despede agora."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo0amy7rubKQxi-3xPhDWmbYdPvw1Gu15uhcM9EqUbQDSQue7MujgCbye9G1zJNz6HuD6N_TR8tN7U-LtH8APevQAI4dMENkCNdrCQnX2mAUUo7_p_PWq9TdOsglL2stae30t6ifLsKleF/s1600/OVO.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="919" data-original-width="711" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo0amy7rubKQxi-3xPhDWmbYdPvw1Gu15uhcM9EqUbQDSQue7MujgCbye9G1zJNz6HuD6N_TR8tN7U-LtH8APevQAI4dMENkCNdrCQnX2mAUUo7_p_PWq9TdOsglL2stae30t6ifLsKleF/s200/OVO.JPG" width="154" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O Ovo Apunhalado</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Claro que ele não
entrevistou Frank Sinatra. Era junho de 1971 e Caio F., 23 anos, trabalhava no
departamento de pesquisa da revista semanal carioca (e também da Pais & Filhos). O livro </span><b style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Para Sempre Teu,
Caio F</b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">., de Paula Dip, conta como foi essa temporada carioca que acabou em
prisão. Ele morava em Botafogo, numa comunidade hippie e por lá escreveu a
maior parte dos contos de </span><b style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O Ovo Apunhalado</b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> (1975).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Um flagrante por porte de
maconha, que ele dizia ter sido plantado, o levou à prisão. E só foi solto
graças à intervenção de Adolpho Bloch, dono da editora que publicava a Manchete,
que o demitiu e lhe deu uma passagem de ida para Porto Alegre. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E naqueles acasos também
rola polícia no final do perfil de Sinatra por Caio F.:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">"Ano passado teve
sérias complicações com a polícia, que o acusava de ligações com a Máfia. Nada
ficou provado, mas paira sempre uma desconfiança sobre Sinatra, por ter sido
criado num bairro de mafiosos e por sua ascendência italiana.O que mais o aborreceu,
entretanto, foi o livro de Mario Puzzo, O Chefão, que hoje em dia é sucesso
internacional. Dizem que quis retratar Sinatra com seu personagem central, um
cantor, ator, homem de maior popularidade nos Estados Unidos, mas cheio de
vícios em sua decadência, o mais inocente dos quais é o da embriaguez. Os que
conhecem de perto Frank Sinatra chegam a afirmar que é perfeitamente possível
que seja esse livro uma das causas que estão na raiz de sua decisão de
abandonar já a carreira para viver uma vida mais tranquila."</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-32744438865481542142019-02-20T11:17:00.002-03:002019-02-20T11:17:41.520-03:00Feliz em conhecê-la, Natália Lage<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"><br /></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifXRrTN_c_D5I7Q8cS2zbH7omJbconIt1KrHivPS2RTGCSG3Vnuw_kcus6YADogifWt5zp8Q7RczUeaHW0dMZMm2P0JFMgmwUbUrhF7UCEyGzXYVJSMPjSnSPwFvzMp6KP1Fp1e-BLscf-/s1600/BeiraMar.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="369" data-original-width="554" height="425" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifXRrTN_c_D5I7Q8cS2zbH7omJbconIt1KrHivPS2RTGCSG3Vnuw_kcus6YADogifWt5zp8Q7RczUeaHW0dMZMm2P0JFMgmwUbUrhF7UCEyGzXYVJSMPjSnSPwFvzMp6KP1Fp1e-BLscf-/s640/BeiraMar.JPG" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Natália Lage em À Beira do Mar Aberto,</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Chama-se Natália, essa garota. Como heroína de romance russo
ou uma tia-avó que nem conheci, famosa pela solidão (morreu solteirona),
independência (vivia num hotel), aristocracia (odiava gentalha) e bom gosto
(costureira requintadíssima) e, curiosa, como a própria filha que não tive e
sempre pensei chamar de Clara, Luz ou, justamente, Natália.</span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Tem 16 anos. Feitas as contas poderia ser minha neta, posto
que sou 30 anos mais velho. Supondo que eu tivesse tido um filho aos 15, e esse
filho também tivesse tido um filho aos 15 - esse último filho ou filha, neto ou
neta, poderia ser Natália. Por escolha, não tive nenhum. Os dois possíveis, em
comum acordo com suas mães, foram abortados. Coisa de que me arrependo até
hoje, ainda que não soubesse o que fazer a esta altura do safári com um rapaz
ou moça de 19 anos e outro ou outra de 13.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Penso muito nesses filhos que não deixamos que vivessem. Rezo
por eles, peço-lhes sempre um perdão desesperançado, amargo, desconfiado de que
o crime cometido será para sempre imperdoável. Mas como Deus, embora aja,
arranja jeitos tortuosos de compensar, volta e meia cruzo com alguém que
poderia ser um daqueles filhos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOXqJAUnK4X_VLV2bMBS3nDgQhaEs7ARMW9bbBqCJIm7CLIgzxG8ZMcY23zpkwyQ9X6MKEwH7xrQ4UKp3Y_oMamnHzU1I4tpGhOTehTVJ_gPwLbhLcMtuoi1SLnWY67DCu2ko3fwTtfqjs/s1600/Mar+Aberto.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="129" data-original-width="53" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOXqJAUnK4X_VLV2bMBS3nDgQhaEs7ARMW9bbBqCJIm7CLIgzxG8ZMcY23zpkwyQ9X6MKEwH7xrQ4UKp3Y_oMamnHzU1I4tpGhOTehTVJ_gPwLbhLcMtuoi1SLnWY67DCu2ko3fwTtfqjs/s320/Mar+Aberto.JPG" width="131" /></a><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Natália é desses. Pele branca de porcelana, cabelos lisos
quase louros, silhueta barroca, parece uma inglesinha do século passado. Não é
difícil imaginá-la envolta em rendas, com chapéu e luvas, um livro ou bordado nas
mãos. Fala pouco, quase nada. Mas olha muito o fundo. Séria, não fica jogando
carinho fora (é de Escorpião), mas de vez em quando pega na sua mão ou te dá um
abraço apertado sem avisar. Súbito e verdadeiro, o gesto de Natália nunca é
social, estudado ou sedutor: toca em você respirando suave, sem nada pedir, sem
carências. Como quem diz qualquer coisa tipo "que bom navegamos
juntos".<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Até dez dias atrás eu só conhecia Natália da TV: ela foi
filha ao mesmo tempo de Vera Fischer e de Silvia Pfeiffer (e de Mário Gomes)
numa telenovela cujo nome não lembro, depois a hiponga Adrenalina de
Tropicaliente. Por amigos, certo dia soube que Natália gostava dos meus livros.
Mas ela é tão jovem, pensei, e esses teens (argh!) não lêem nada, pensei assim
com preconceito burro.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAwdxLBOsU9mATKEJZX7of3F9WZPxJeHVXAxfhvemwn89jlwfByR_uy9dvkBEojf6DlpsF6fd1QsQH2KfojqqgtXmpO3bgjXx5fpzevDgrQ6AwhrIvGvQ7YNZ4OEUOCtocQ24j-efIpRgD/s1600/BeiraMar.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" data-original-height="968" data-original-width="1296" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAwdxLBOsU9mATKEJZX7of3F9WZPxJeHVXAxfhvemwn89jlwfByR_uy9dvkBEojf6DlpsF6fd1QsQH2KfojqqgtXmpO3bgjXx5fpzevDgrQ6AwhrIvGvQ7YNZ4OEUOCtocQ24j-efIpRgD/s320/BeiraMar.JPG" width="320" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">O elenco de À Beira do Mar Aberto</span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Fim do ano passado me procurou Marta Lage, mãe de Natália,
queria produzir um espetáculo teatral com meus contos. Natália, imaginem, não
tinha coragem de falar comigo. Pura intuição do bem, autorizei na hora.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Juntaram-se ao elenco Candé Horácio (19), Suzana Pires (18),
Henrique Farias (20) e Mauricio Branco (25), todos eles filhos-não-tidos.
Gilberto Gawronski começou a dirigí-los. Surgiu o título de um dos contos - À
Beira do Mar Aberto, a idéia justa desse maar imenso da vida aos pés dos muitos
jovens, tão jovens que mal começaram a navegar. Terá sereia nesse mar? E ilha e
tubarão, terá? Piratas, tesouros, naufrágios, calmarias, tempestades, recifes,
corais, escorbutos, banzo e nácar? Oh, Deus, tende piedade dos moços: só
navegando em tuas águas pra descobrir tanto horror e maravilha.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Então vim ao Rio, e com uma equipe de 17 lindas pessoas fomos
a Fortaleza estrear. Conheci Natália. Durante a viagem, enquanto os outros se agitavam
excitados, ela leu todo O Marinheiro, de Fernando Pessoa; num bar, a vi sair
discretamente para caminhar de mãos dadas com um menino mendigo. De vez em
quando, numa mesa cheia, baixa a cabeça e escreve, escreve, escreve. É uma
atriz. Tão menina, e de vez em quando umas entonações sabidas de balzaquiana,
ironias de diva, charme de gatinha. Estranha densidade. Aura, magnetismo:
talento.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Voltei, eles ficaram. Vão a Natal, João Pessoa, Salvador,
Ilhéus, depois o Sul. Eu trouxe Natália no meu coração assustado, feito flor
rara. Desde que a conheci, aqueles filhos que não tive me doem bem menos. Que é
da natureza da dor parar de doer, tenho aprendido.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Caderno
2, OESP - Domingo, 5 de fevereiro de 1995<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E aqui, sobre a peça À Beira do Mar Aberto</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a href="http://caiofcaio.blogspot.com/2011/12/beira-do-mar-aberto.html">http://caiofcaio.blogspot.com/2011/12/beira-do-mar-aberto.html</a></span></span></div>
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-74934427401878872622018-09-15T20:32:00.000-03:002018-09-15T20:32:26.947-03:00Caio F. no Roda Viva<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6hhxjHYdMH2juFdY-FsrMbYhThpJzMSMdBcWCgdVio_cv-Ue-6_ORfA_dyQSg89ETtqnyjEN-ac5IQGn3vJVY0pnYaD6GLKPCnk_mRnjwxBkztmsSRuSoEdWuR0p8s0oM_havlYBdZOl-/s1600/CaioRoda.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="639" data-original-width="1003" height="252" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6hhxjHYdMH2juFdY-FsrMbYhThpJzMSMdBcWCgdVio_cv-Ue-6_ORfA_dyQSg89ETtqnyjEN-ac5IQGn3vJVY0pnYaD6GLKPCnk_mRnjwxBkztmsSRuSoEdWuR0p8s0oM_havlYBdZOl-/s400/CaioRoda.png" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Caio F. no Roda Viva com Raquel de Queiroz</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br />Houve dois momentos marcantes de Caio Fernando Abreu no programa Roda Viva. O primeiro e polêmico foi como entrevistador da escritora Raquel de Queiroz <a href="https://www.youtube.com/watch?v=q0NHxLbaN5w">https://www.youtube.com/watch?v=q0NHxLbaN5w</a>. Quatro anos depois, em 1994, depois de ter revelado ser HIV positivo, ele voltou ao programa, agora como entrevistado (Não encontrei a entrevista no Youtube). Caio comentou esses dois momentos, em entrevista à Maristela Barrios, publicada no primeiro número da revista Sui Generis, em janeiro de 1995. <a href="http://caiofcaio.blogspot.com/search?q=conhecendo+o+para%C3%ADso">http://caiofcaio.blogspot.com/search?q=conhecendo+o+para%C3%ADso</a> </i></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> "</span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Numa emissora de TV, há quatro anos, tive um entrevero no ar com a Raquel de Queirós, aquela </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">latifundiária improdutiva</span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> e extremamente reacionária – num programa semanal em que eu era sempre um dos convidados </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Depois disso, nunca mais me chamaram para nada, a não ser há algumas semanas. E era o mesmo entrevistador, a quem eu lembrei o fato e que, durante uma hora, não me olhou nos olhos. Mas uma das coisas boas do vírus é que fica assim... um grande caguei. Não tenho nada a perder, a única coisa que posso perder é a vida. Então, quero mais é dizer o que penso, o que realmente sinto, coisas que são verdadeiras pra mim e que podem ser úteis aos outros. Porque eu acho que sou uma pessoa legal, como costuma dizer a </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Gal Costa</span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Eu vivi uma porção de coisas, posso dizer coisas boas e más também. Como falava Mae West, ‘quando sou boa, sou ótima, mas quando sou má, sou melhor ainda’."</span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span><br />
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-88362574414513554892018-09-12T09:49:00.002-03:002018-09-12T09:49:22.664-03:00Angela e Cauby: para roubar uma lágrima furtiva<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3oZ0GkuFVtQYucGduU3YVqCRqkFDxW5zla1GjD4QFTCmor2DOObkMPXpQ_BP3R_aZLw3EZ9w6es5-shhc7ZTWNnVPjhlVUs-iAsufVRkPULzrZJ-Cs2TeyaHQ82bH4ePGcg6G8O_lmp2n/s1600/ANGELA+E+CAUBY+%25286+jun+86%2529+-+Copia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1239" data-original-width="1600" height="492" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3oZ0GkuFVtQYucGduU3YVqCRqkFDxW5zla1GjD4QFTCmor2DOObkMPXpQ_BP3R_aZLw3EZ9w6es5-shhc7ZTWNnVPjhlVUs-iAsufVRkPULzrZJ-Cs2TeyaHQ82bH4ePGcg6G8O_lmp2n/s640/ANGELA+E+CAUBY+%25286+jun+86%2529+-+Copia.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; text-align: justify;"><i>Para marcar o dia em que seria o dia dos 70 anos de Caio F, uma postagem especial. Esta belezura de texto não está em Pequenas Epifanias e nem em A Vida Gritando nos Cantos, os livros que reúnem as crônicas que ele escreveu no Caderno 2 do Estadão. Esta saiu no formato matéria sobre um show de Angela Maria e Cauby Peixoto. Pra falar dos dois cantores, Caio convoca uma protagonista: tia Vilma, que embalou sua infância com canções. O resultado é uma maravilha e o "lágrima furtiva" não está no título por acaso. Uma pequena epifania essa crônica/matéria.</i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;"> <span style="font-size: large;">Angela e Cauby: para roubar uma lágrima furtiva</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;">Tenho uma tia chamada Vilma.
A Vilminha, como a chamam até hoje as freguesas de costura, ou Pavima para nós,
seus 500 sobrinhos. Solteirona, romântica, alucinada, tia Vilma amava no ar.
Nunca se soube de um namorado seu. Tia Vilma lia fotonovelas, e cantava. Ah,
como cantava, derramando vezenquando uma lágrima furtiva. Me ninava nas noites
frias com seu repertório heavy: Dalva de Oliveira, Nora Ney, Linda Batista. Ao
invés de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Bicho Papão</i>, dê-lhe <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Risque</i>; e tome <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vingança</i>, ao invés de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Boi da
Cara Preta</i>. Com dois, três anos, eu dormia no colo virginal Pavima, ouvindo
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ninguém me Ama</i>. Com cinco ou seis,
cantava com ela obras completas de Lupicínio Rodrigues. Essas coisas marcam
fundo, vocês sabem. Podem marcar pra sempre, gravemente até: fazem a fortuna
dos psicanalistas quando a gente fica taludinho...<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span>
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoQ0aifQCiyThFDihqG7Jz-vcN0VbXdffT6y6qhDjBX4Wk9lvP3pK-JBbSol2a3TTECtb6tWLMhCiqfnKmB6LC8ZOM0BkhI53qenyweF_LEohhkRVRAx70vlsT-L9MVKDV0jTijuw5bd3j/s1600/sandro-moretti2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoQ0aifQCiyThFDihqG7Jz-vcN0VbXdffT6y6qhDjBX4Wk9lvP3pK-JBbSol2a3TTECtb6tWLMhCiqfnKmB6LC8ZOM0BkhI53qenyweF_LEohhkRVRAx70vlsT-L9MVKDV0jTijuw5bd3j/s1600/sandro-moretti2.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Sandro Moretti: galã de fotonovela</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">E Angela e Cauby, Pavima
cantava. De Angela, muito </span><i style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Cinderela</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Cauby,
puro descorno, ela adorava. Lembro de uma porta interna de guarda-roupa -
lembro mais do mosqueteiro suspenso, de filó branco, sobre a colcha de renda
(quarto de moça), da janela aberta sobre o pátio cheio de begônias - e daquela
porta interna do guarda-roupa com fotos de Cauby e Sandro Moretti. Cauby de
bigodinho, orelhas meio de abano. Fino, sóbrio. Usasse faca, tia Vilma puxaria
a dela, bem afiada, se alguém ousasse chamar Cauby de "maricão". E
como chamavam!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;">Tivesse eu Pavima por perto
- e não lá nos ermos de Itaqui - hoje à noite a levaria para assistir Cauby e
Angela em "As Vozes". Talvez, suprema subversão, conseguisse fazê-la
beber pelo menos uma vodka. Não, não me atrevo a imaginar tanto. Um singelo
copo de vinho, branco naturalmente - quem sabe? Eu ficaria de porre total,
lógico, e falaríamos de todo esse tempo que se foi, e dos que morreram, e dos
que se descaminharam, dos que a vida feriu fundo, e dos que sofreram duramente
por amor (ou falta de). Com Angela e Cauby ao fundo, talvez a velha - muito velha
- e boa - boa no sentido vasto da generosidade - Pavima revelasse enfim seu
grande segredo indizível. Que deve haver um, fatal. Sobre uma história que não
houve. Homem casado, talvez? Um cunhado, um oficial do exército, um estudante
pobre? Que vil sedutor, meu Deus?<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;">Ao som das vozes de Cauby e
Angela, eu e Pavima. Eu ficaria pensando qualquer coisa meio longa e
complicada, como esta, assim: amar de paixão tresloucada ou detestar com as
mais recônditas fibras do self, achar breguésimo ou tão brega, mas tão brega
que (como o princípio zen do yin e do yang) chega a ficar requintadamente
chique, qualquer dessas atitudes, intelectuais ou emocionais, em relação a
Cauby e Angela não têm nada a ver.Se eu pudesse ver, do outro lado da mesa, os
olhos muito cansados e quase azuis de tia Vilma por trás dos óculos de lentes
grossas, teria ainda mais certeza que Cauby e Angela pairam infinitamente acima
dos nossos pobres e preconceituosos padrões críticos.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;">Mas claro que, se eu quiser,
posso colocar imediatamente o disco dos Inocentes e acabar com este clima. Mas
é este clima que não acabam, como não acabam Angela e Cauby, as vozes que só
por soarem, independente do que dizem, trazem de volta o passado de um país
inteiro. Fico remexendo à toa em fotos e recortes antigos. Anoto os nomes dos
oito irmãos da operária Abelim Maria da Cunha (Angela): Abdmar, Abiezer,
Ablair, Abiail, Abladina, Abdiel, Abmael e Abedil. Parece uma oração. Encontro
um elogio de Louis Armstrong, outro de Elis, à voz de Sapoti (e aquele agudo?).
Vou mais fundo até encontar - juro - o registro de uma dança da inteiramente
dark de Cauby, em 1952. Detalhes não posso dar. Mas é forte. Aliás, com suas
antenas mutantes, o Supla pegou esse lado do Cauby. E Elis, quando gravou com
ele o infernal <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Bolero de Satã</i>:
"Agora me assalta a aflição de chorar louco e só de manhã".<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;">Tia Vilma/Pavima/Vilminha
teria hoje talvez uma das melhores noites de sua vida em sépia. Ficaríamos numa
mesa ao fundo, cúmplices. Tenho certeza que ela cantaria junto <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vida de Bailarina</i>, bem baixinho. E
fingindo limpar os óculos, enxugaria muito dissimuladamente - mas não tanto que
eu não percebesse - outra daquelas furtivas lágrimas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;"><i> O Estado de S. Paulo -
Caderno 2 - Sexta-feira, 6 de junho de 1986</i><o:p></o:p></span></div>
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-63372881476886433992018-09-10T17:39:00.000-03:002018-09-10T18:40:03.028-03:00'Adeus, Brasil Cruel'<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgowNhbMhSNyaeXcZdtgRmk1esVWiIWgrfBZnrV6rvH-KzQgJOoStLxMWHS0ifO_XEdU_872GJpq_0UmEMdqHH-aJ39yb_RP2919-HCtslHerFtPlQGdRQWJYgjnctKjqzCaaLZntKwfF5B/s1600/Caio_G.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="454" data-original-width="588" height="307" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgowNhbMhSNyaeXcZdtgRmk1esVWiIWgrfBZnrV6rvH-KzQgJOoStLxMWHS0ifO_XEdU_872GJpq_0UmEMdqHH-aJ39yb_RP2919-HCtslHerFtPlQGdRQWJYgjnctKjqzCaaLZntKwfF5B/s400/Caio_G.png" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Essa
entrevista foi há 28 anos. Caio F., 42 anos recém completos, acabara de lançar
"Onde andará Dulce Veiga?", quando conversou com Geneton Moraes Neto
(1956-2016). Saiu em O Globo, edição de 30 de setembro de 1990, quase seis anos
antes da morte do escritor. É das melhores entrevistas dele, que vivia
desencanto com o País e funciona como uma mini biografia.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> </span><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">'Adeus,
Brasil Cruel'</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHmec4nt3nvUbpPyLbkLHlLX0FuqHaKDctsMY_4DFoVoAuFk_EGG90TyQK2_2VzwTuBKwgoatCcqKHI1dki2HQEHfCNiwUWHF4nbqqAzzd8MCU2Zv7YTt9v7ehfqeH_e8XmA3pnbD54JtH/s1600/Dulce.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="446" data-original-width="300" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHmec4nt3nvUbpPyLbkLHlLX0FuqHaKDctsMY_4DFoVoAuFk_EGG90TyQK2_2VzwTuBKwgoatCcqKHI1dki2HQEHfCNiwUWHF4nbqqAzzd8MCU2Zv7YTt9v7ehfqeH_e8XmA3pnbD54JtH/s320/Dulce.jpg" width="215" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quando
lançou "Morangos Mofados", em 1982, você dizia aos que lhe cobravam
um romance: "Quando alguém se dispuser a me dar uma mesada que me livre da
obrigação de trabalhar oito horas por dia, compareço com um romance". A
esperada mesada chegou para que você pudesse escrever "Onde andará Dulce
Veiga?"?</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Meu editor, Luis Schwarcz,
me pagou durante um ano enquanto eu escrevia "Onde andará Dulce Veiga?",
U$ 350 por mês, no câmbio oficial. É pouquíssimo, dava cerca de Cr$ 20, 25 mil.
Eu complementava com o que eu chamo de biscates culturais. Mas renunciei a
tudo, porque o que me interessa é a literatura. Se eu não tinha dinheiro para
jantar fora, fazia arroz integral com ovo frito. Andava a pé, pegava ônibus.
Cortaram a luz. Cortaram o telefone. Mas eu precisava escrever. Isso aconteceu
comigo, no plano pessoal. Quanto à literatura brasileira - de uma forma
abrangente -, concordo com Hilda Hilst, a maior poetisa brasileira viva, quando
diz que hoje, no Brasil, escritor vale menos que um gato morto. Não há
respeito. Não há divulgação. Não há amor pelo autor brasileiro. Nós estamos
todos profundamente solitários, desencantados, separados. Então eu me senti abençoado
por ter conseguido escrever o romance.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Você
lamentava, há poucos anos, que o escritor brasileiro fosse "um escritor de
fim de semana". A situação piorou nos últimos tempos?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Piorou, e por isso estou indo
embora do País. Vou lançar livros na Europa no fim do ano e ficar na Espanha,
em Ibiza. Amo profundamente o Brasil. O meu livro é desesperadamente
brasileiro. Preciso ficar longe dessa paixão, para que ela não me destrua. Eu
serei um exilado literário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Você
espera encontrar na Europa, como escritor, o que não encontrou no Brasil?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não, não e não. Vou ser, na
Europa, um paquistanês. Não tenho ilusão. Já morei em Londres e Estocolmo. Eu
era profundamente rejeitado e chamado de negro, índio, chicano. Mas vou: é como
o Paulo Coelho aconselha: de sete em sete anos, jogue a vida para o alto e saia
à procura de outra, porque teu destino pode estar à tua espera num boteco em
Atenas. Se você não for, não vai encontrar. Sou um rolling stone. Isso pode
ajudar a minha literatura e meu profundo amor pelo Brasil - cada vez mais
enlouquecido, o meu amor por este País cruel.<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglR-jEaKWe66JbewDsYXorLBv5tMomIcKQaJRhK5pkDCxMgkLfmvvbfceLJaEWc9kT3a3JryBZx3sXjqIsLLRTaa_kwnUJa7ibRDfihzHaVUn4pyv5J802Y37rCslc8D2650f25TF2nvaO/s1600/Virgi.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="321" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglR-jEaKWe66JbewDsYXorLBv5tMomIcKQaJRhK5pkDCxMgkLfmvvbfceLJaEWc9kT3a3JryBZx3sXjqIsLLRTaa_kwnUJa7ibRDfihzHaVUn4pyv5J802Y37rCslc8D2650f25TF2nvaO/s200/Virgi.jpg" width="128" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Dentro
da literatura, a que santos e demônios você recorre?</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Santos ou demônios, minha
relação é sempre com a luz. "Onde andará Dulce Veiga?" se encerra com
uma oração de Clarice Lispector: "Ah, força do que existe/ Ajudai-me!/ Vós
que chamam de o Deus". Fui preso em Londres, numa livraria, roubando a
biografia de Virginia Woolf, escrita por Quentin Bell. Fiquei três dias na
prisão. Só fui ler a biografia há poucos anos. Quando fui preso, fiquei sem o
livro. Mas, desde então, ela me protege - Virginia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Você
descreveu há pouco a precaridade que enfrentou durante o período em que
escreveu "Onde andará Dulce Veiga?". Mas esta precariedade palpável
na vida real não transparece no texto. Críticos já notaram que você escreve com
elegância. Você escreve com raiva, também?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sou, no fundo, uma senhora
inglesa. Muitas pérolas. Muito tailleur. Muita seda. Mas sou cafajeste, também.
Num dos capítulos, antes de tomar um táxi, o personagem cruza na rua com dois
anões, um corcunda, três cegos, quatro mancos, um homem-tronco, outro maneta,
um enrolado em trapos como um leproso, uma negra sangrando, um velho de muletas,
duas gêmeas mongolóides e tantos mendigos que não consegue contar. Aquela cena,
no livro, é a raiva da realidade brasileira, é ódio do Terceiro Mundo. Tenho
ódio, repulsa, desprezo, repugnância, pelo que fizeram com o Rio de Janeiro.
Como é que nós, brasileiros, a nossa geração, os jornalistas, os intelectuais,
permitimos que o País virasse essa bagunça?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Você
também é jornalista. Fazer jornalismo é ruim para a saúde mental e física de um
escritor?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">É. Para o escritor - um ficcionista
que se alimenta de sonho, ilusão e fantasia - é melhor ser jardineiro ou
sapateiro do que se submeter ao vão comércio da palavra. Trabalhei na Editora
Abril. Passei pela revista "Nova". Por mês, escrevia cinco matérias
sobre sexo anal, sexo oral... Quando me dei conta, tinha ido parar na Divisão
de Fascículos, onde estava escrevendo receita de cozinha. Juro! Tive uma
indignação total. Pedi demissão. Disse: "Se eu continuar, amanhã de manhã vou
me olhar no espelho e cuspir na minha cara!". Fiquei duro. Mas saí. Não admiti.
Nélida Piñon é que diz: se você é escritor no Brasil, todo dia ouve alguém
bater na porta para aconselhá-lo de maneira convincente a desistir. É preciso
agarrar a literatura pelos cabelos, como Clarice Lispector fez, numa luta
diária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Você
uma vez listou, entre os personagens que o fascinam, "as prostitutas, os
negros, os homossexuais, os bêbados, os loucos, os suicidas, os exilados, os
mendigos, os endemoniados". A arte que se alimenta da maldição é menor e
mais viva?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">É mais viva porque vive
"perto do coração selvagem da vida", como diria James Joyce. Sou
feliz. Sou a pessoa mais careta do mundo. Minha vida é toda ordenada. Tenho
minha loucura sob controle. Mas os outsiders me interessam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Você
diz que José Saramago é "chatíssimo" porque não tem nada a ver com o
que acontece na vida real...<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">De vez em quando, a gente
fala coisas meio bobas que são distorcidas. Mas é verdade mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2DHOZv14oWBSIjRUirHDq1FpFo03XZtpYYIK_YZLAzfFZTD7SpgB0hbyvT-20rViPZAfUZaTS01HbNNSuWefe6lZBW4jxjmksITthZxCFu7tmo4me0RltP1iM4Lb6ZwQ2oG6ymuz8rUpz/s1600/Edit.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="279" data-original-width="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2DHOZv14oWBSIjRUirHDq1FpFo03XZtpYYIK_YZLAzfFZTD7SpgB0hbyvT-20rViPZAfUZaTS01HbNNSuWefe6lZBW4jxjmksITthZxCFu7tmo4me0RltP1iM4Lb6ZwQ2oG6ymuz8rUpz/s1600/Edit.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Você,
então, prefere a literatura que possa fazer o leitor enxergar o que existe em
torno de si?</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Prefiro a literatura que
ajude a alma do leitor a se questionar, a crescer e a evoluir. Prefiro a
literatura que abale o leitor de alguma forma. Por exemplo, fiquei abalado
quando li "O diário de Edith", de Patricia Highsmith. É a história de
uma mulher que tem uma vida absolutamente banal, mas descreve, num diário, uma
vida fictícia maravilhosa. Um livro assim perturba minhas reflexões sobre mim
mesmo, sobre a sanidade, sobre a loucura, e sobre os limites da relação com o
real. Prefiro este tipo de literatura - que é viva porque abala e não entra por
um ouvido e sai pelo outro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Cazuza,
de quem você foi amigo, acaba de virar nome de praça em São Paulo e também no
Rio, no Arpoador. A rebeldia deve virar monumento?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quando quiseram transformá-lo
num busto de bronze, Mario Quintana disse: "Cuidado! Um engano de bronze
pode ser um engano eterno!". O que Cazuza deixou de melhor ficou nos
discos e na bravura com que enfrentou a vida. Se virar nome de praça, tudo bem.
Ser esquecido ou não ser esquecido, tanto faz. A posteridade é um tédio. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-8831220813019180252018-08-31T10:43:00.003-03:002018-08-31T10:47:51.470-03:00Adeus, agosto. Alô setembro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeFMH_1M0bbNiOt8lBysYbHjtNeqFVwFx33_CDFveqQygJyrj_Uhrnwzb72uz1spDau2dMgmyVf1lRbkvHrH26WMfZb4B21vIG4qfBRWioohLOEUn3ezzQ49MW0PDaqM1tJIJrMoEP8hEW/s1600/CaioAgosto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1116" data-original-width="1280" height="556" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeFMH_1M0bbNiOt8lBysYbHjtNeqFVwFx33_CDFveqQygJyrj_Uhrnwzb72uz1spDau2dMgmyVf1lRbkvHrH26WMfZb4B21vIG4qfBRWioohLOEUn3ezzQ49MW0PDaqM1tJIJrMoEP8hEW/s640/CaioAgosto.jpg" width="640" /></a></div>
<i><br /></i>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222;">
<i style="line-height: 15.18px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Mesmo aqui, no país bandido,</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222;">
</div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><span style="background-color: white; color: #222222;"><span lang="PT-BR" style="line-height: 15.18px;"> agosto sempre vai embora. E</span></span><br style="background-color: white; color: #222222;" /><span style="background-color: white; color: #222222;"><span lang="PT-BR" style="line-height: 15.18px;"> setembro sempre volta, sim</span></span></i></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="line-height: 15.18px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Agosto</b>, todo mundo sabe, nunca foi fácil. Este que nos deixou à meia-noite de ontem e pareceu durar uns seis meses, cumpriu a tradição. Levou Drummond, levou John Huston, Gilberto Freyre. O mais <b>patético</b>: levou Pixote. Ao saber do assassinato (é as-sas-si-na-to mesmo que eu quero dizer) dele, além de sentir uma <b>vergonha viscosa</b> de ser brasileiro, fiquei pensando assim – Deus, o que é que está acontecendo com este país? Imagino a praça de guerra (Líbano perde) em que se transformou o Rio de Janeiro e, na trilha sonora, ficou ouvindo Lobão berrar <b>“vida, vida, vida bandida”</b>. Em 1987, Lobão tornou-se a mais perfeita tradução de Brasil. Um país invadido pela corrupção, pela barbárie, pela violência policial, pela bandidagem. Você vai até a esquina comprar cigarros e não sabe se volta vivo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="line-height: 15.18px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="line-height: 15.18px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Falei disso a um motorista de<b> táxi</b>. Sobre Pixote, ele disse: “Pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto”. Sobra a guerra da polícia com os traficantes, no Rio: “Bandido tem mais é que morrer”. Fiquei pensando: e, se tivesse educação, tinha bandido? Se tivesse comida, tinha bandido? E se tivesse uma perspectiva qualquer de futuro no ar, tinha bandido? Se houvesse um mínimo de alguma coisa levemente parecida com “felicidade”, “dignidade”, “justiça?”. Quem inventou essa violência desenfreada que tomou conta do País não foram os marginais – foram os poderosos. Se eu desculpo bandido? Desculpo sim. Não desculpo é marajá. Não desculpo Zé Sarney no comando desta <b>barca de Medusa</b>, navegando em mar de sangue – em direção a que abismo? Ninguém sabe, temos medo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="line-height: 15.18px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="line-height: 15.18px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Passadas as águas de agosto, <b>ontem inaugurou setembro</b>. E por não apostar no País, aposto em setembro (“se o mundo é um lixo, eu não sou”). De saída, tem uma coisa linda que eu vou contar pra vocês. É assim: tenho quatro irmãos de sangue em Porto Alegre, e – graças a Deus – talvez uns 20 irmãos de alma soltos pelo mundo. Esta semana, dois deles estão aqui, vindos de Porto Alegre para apresentar no Madame Satã um trabalho chamado <b>Lenta Valsa de Morrer</b>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="line-height: 15.18px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="background: rgb(255, 255, 255); border: 1px solid rgb(238, 238, 238); box-shadow: rgba(0, 0, 0, 0.1) 1px 1px 5px; color: #222222; float: right; margin-left: 1em; padding: 5px; position: relative; text-align: justify;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZd7ahDVlS58M72RNjMU_5tsxq01AkAImrhGhGQkSnQNuB6Eg8MAhTzx7Ihgm70dMVDmrvF4w4KR1mNf0JYVCL6LafQNwkKv6r2HrFVlp909JZVMADAMPIS7AtrB9kDESmlvrVj0Vb64tk/s1600/CaioAgosto2.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; color: #888888; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto; text-decoration-line: none;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><img border="0" height="194" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZd7ahDVlS58M72RNjMU_5tsxq01AkAImrhGhGQkSnQNuB6Eg8MAhTzx7Ihgm70dMVDmrvF4w4KR1mNf0JYVCL6LafQNwkKv6r2HrFVlp909JZVMADAMPIS7AtrB9kDESmlvrVj0Vb64tk/s320/CaioAgosto2.JPG" style="background: transparent; border: none; box-shadow: rgba(0, 0, 0, 0.1) 0px 0px 0px; padding: 0px; position: relative;" width="320" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: small;">Ivan, Adriana e Eliane: Lenta Valsa de Morrer</span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="line-height: 15.18px;">Eles chamam-se Ivan Mattos e Eliane Steinmetz (Eliane é “a Gorda” – emagreceu, mas o apelido ficou), atualmente também conhecidos como “os loiros” porque, como diz o Bivar, <b>oxigenaram um pouco</b>. Ivan e Gorda são das pessoas</span><span style="line-height: 15.18px;"> </span><span style="line-height: 15.18px;">mais engraçadas que conheço, e das mais talentosas. Não estão mais cabendo em Porto Alegre, a cidade-carroça, e vieram mostrar esse trabalho para quem quiser ver. São textos de Clarice Lispector, do alemão Heiner Müller, do gaúcho Renato Campão – e também meus. Tudo isso embalado pela voz de Adriana Calcanhotto, uma supercantora (quem perdeu o show dela no Off, semana passada, dançou), com participação de Adriane Mottolla, uma moça muito chique, e figurinos de Zé Adão Barbosa, um moço também muito chique. Na direção, outro irmão de alma: Luciano Alabarse. Pinta lá pra ver. Eles vão gostar, você também.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="line-height: 15.18px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="line-height: 15.18px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Se estou fazendo propaganda dos meus <b>amigos</b>? Lógico, meu bem, você acha que eu ia fazer propaganda dos meus <b>inimigos</b>? Sinto/sei que, de cada vez que o horror arreganha os dentes – assassinam Pixote, o Rio vira Líbano -, se a gente estiver atento, no minuto seguinte a velha <b>Dona Vida</b>, essa senhora imprevisível e nem sempre respeitável, faz uma pirueta no trapézio para mostrar a outra face. Não a de megera medonha, sanguinária, mas seu avesso: a fada suave, revelando o talento de gente moça. Ivan, Eliane, Adriana, moçada que já nasceu com os militares no poder, sem esperança nem fé, rolando de rir de tudo, com um jeito insólito de captar o sério das coisas. Não o sério clichê, o sério careta – mas um olho novo de pegar o mundo. Esse jeito existe, eu já vi. Cada vez que olho para Ivan e Gorda, cada vez que ouço Adriana, ele está lá.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="line-height: 15.18px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="line-height: 15.18px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Como setembro. Mesmo aqui, no País Bandido, agosto vai sempre embora, e setembro sempre chega. Se você quiser, claro. Porque, como aquele motorista de táxi, você pode achar que bandido é bandido, tem que ser morto. Quanto a mim, acho que <b>todo mundo tem mais é que viver</b>. Ser feliz. Agora, dá licença, vou escancarar a janela, tomar um banho e me preparar para este setembro que ninguém vai sujar. Em mim, não mesmo.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="line-height: 15.18px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="line-height: 15.18px;"><i style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13.2px;"> OESP, Caderno 2, Quarta-feira, 2 de setembro de 1987</i></span></div>
Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-91067804431264671682018-08-09T17:26:00.001-03:002018-08-09T17:26:30.198-03:00Caio F. no Bixiga<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFV_HFXMRGqG_h21V8ORg0mK6hyqJRF2EWS18wpYLC3VN84h1RJn-tPDJX7FUfxIPwqPAdLypLVg4ftNz-1sMWZ8Co2e-5aCBNtF4xAnIDjru4f1dgpNL50NNtVCeLFRA9GITmM-eSiGNK/s1600/Caio_Bixiga.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1158" data-original-width="869" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFV_HFXMRGqG_h21V8ORg0mK6hyqJRF2EWS18wpYLC3VN84h1RJn-tPDJX7FUfxIPwqPAdLypLVg4ftNz-1sMWZ8Co2e-5aCBNtF4xAnIDjru4f1dgpNL50NNtVCeLFRA9GITmM-eSiGNK/s640/Caio_Bixiga.JPG" width="480" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O Teatro do Incêndio fez uma bela homenagem aos grandes nomes da cultura nacional. 376 nomes de atores, escritores, dramaturgos, cantores
tomam conta das paredes brancas do prédio, localizado na esquina das ruas Santo
Antônio e 13 de Maio, no Bixiga, SP. E o nome de Caio F. está lá, em destaque,
bem acima do nome do teatro. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />O prédio abrigou a lendária Boate Igrejinha, famosa por shows de música brasileira. Foi lá, por exemplo, que Maysa fez seu último show.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Aqui, a descrição da fachada do Teatro do Incêndio, no site deles.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">"<span style="color: #656666; text-align: center;">A parede externa de entrada do Teatro do Incêndio tornou-se um grande painel com a inscrição de 376 nomes de artistas de real importância na história cultural. Entre os homenageados, Tom Jobim, Cacilda Becker, Plínio Marcos, Flávio Império, Mário de Andrade, Carolina de Jesus, Maysa, Geraldo Filme, Roberto Piva, José Celso Martinez Corrêa, Batatinha, Ariano Suassuna, Darcy Ribeiro, Antônio Cândido, Ruth Rachou, José do Patrocínio e Lygia Clark."</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOqU2Tj2YWFyDIsA4pXGDdyEepoWQaDVXuCqKs0F7yrh9_aDOlgkyrmo9joWLadfx5gcvtZOONj_4mnn-6kzNs1RtFQkLLTjRvc6s-sZ33JpHv6GgeMRvOycUPIttmsmvIAfdVSs4OFRMg/s1600/Foto+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="673" data-original-width="897" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOqU2Tj2YWFyDIsA4pXGDdyEepoWQaDVXuCqKs0F7yrh9_aDOlgkyrmo9joWLadfx5gcvtZOONj_4mnn-6kzNs1RtFQkLLTjRvc6s-sZ33JpHv6GgeMRvOycUPIttmsmvIAfdVSs4OFRMg/s400/Foto+2.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Na parede do Teatro do Incêndio, Bixiga/SP</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguZMPvbujASZqJjyvnk8wVy7yH2kJIidRsizdLM-TwVlt81VZjTn86RmqfHFN9DuYnqGUEfd4PIVt1wRA1sPlee-iz1tbuyKSuPeN6v-JmCJFv_WMgp9Oye3b9fH7_t58EHqs1kvDirH1G/s1600/foto+1.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="478" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguZMPvbujASZqJjyvnk8wVy7yH2kJIidRsizdLM-TwVlt81VZjTn86RmqfHFN9DuYnqGUEfd4PIVt1wRA1sPlee-iz1tbuyKSuPeN6v-JmCJFv_WMgp9Oye3b9fH7_t58EHqs1kvDirH1G/s400/foto+1.JPG" width="298" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Na parede do Teatro do Incêndio, Bixiga/SP</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span></div>
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-72593752941173904062018-08-01T16:07:00.001-03:002018-08-01T16:07:22.770-03:00Sugestões para atravessar agosto, crônica escrita no último agosto de Caio F.<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Essa crônica foi escrita há 23 anos, no último agosto que Caio F. viveu e publicada no domingo, 6 de agosto de 1995, no Caderno 2, do jornal O Estado de S.Paulo. Boa leitura.</i></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgK6oyI3V2Av8SCYYoL8K2HAsMvzkRm267Lc4Z3nkmhNEE99mHu1HQVrSPl5U-8apv86SVPfSG18F6qdrdAt_QbEQiKcmIy1uIdulmKwzrMkEkCXpgLGMG8fwOToiP3H33jr9PIWoGAqk42/s1600/Caio+Agosto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="522" data-original-width="731" height="456" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgK6oyI3V2Av8SCYYoL8K2HAsMvzkRm267Lc4Z3nkmhNEE99mHu1HQVrSPl5U-8apv86SVPfSG18F6qdrdAt_QbEQiKcmIy1uIdulmKwzrMkEkCXpgLGMG8fwOToiP3H33jr9PIWoGAqk42/s640/Caio+Agosto.jpg" width="640" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Sugestões para atravessar agosto<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Para atravessar agosto é
preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para atravessar os dias
sem<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>se deixar esmagar por eles, mesmo
que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará
setembro - e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas
deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído,
inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo,
assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah! escrever
tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto
importante: ir, sobretudo em frente.<o:p></o:p></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Para atravessar agosto
também é necessário reaprender a dormir, Dormir muito, com gosto, sem
comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de
agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a
suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às
vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais e sem
muito critério de qualidade. Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a
Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a
Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem:
qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente
considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais,
emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar
agosto.<o:p></o:p></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Claro que falo em agostos
burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso,
angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós.
Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz
abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural,
sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos - ou precauções - úteis a
todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou
vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a
fantasia categoria originalidade... Esquecê-lo tão completamente quanto
possível (santo zap!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de
assunto já.<o:p></o:p></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Para atravessar agosto ter um
amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele
partiu - sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio
Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista.
Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto,
viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês.
Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras,
projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E
beijos, muitos. Bem molhados.<o:p></o:p></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Não lembrar dos que se
foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem
vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência
ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos,
conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de
informação para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de
serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima
das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das
bandejas de asas de borboletas - coisas assim são eficientíssimas, pouco me
importa ser acusado de alienação. É isso mesmo; evasão, escapismo. Assumidos,
explícitos.<o:p></o:p></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Mas para atravessar agosto,
pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de
assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim,
veja, bruta e seco:.</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-80158445837444587502018-07-29T16:15:00.002-03:002018-07-29T18:09:57.804-03:00Caio F. e a festa erótica de Hilda Hilst<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFqfeQG8CID0Vo4RIusHg9etlAZRwEr5INHx4HvNU18TyTbBjnOYOCLCIWC6VR9E-P5iv-MLhyphenhyphen0olbH4zx5_Fpmts8tixEtruJw-nw6Pvh5wrauUMJSG8LWpdflDyLJmbMuF-7uSGUwqy1/s1600/foto+2.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1158" data-original-width="869" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFqfeQG8CID0Vo4RIusHg9etlAZRwEr5INHx4HvNU18TyTbBjnOYOCLCIWC6VR9E-P5iv-MLhyphenhyphen0olbH4zx5_Fpmts8tixEtruJw-nw6Pvh5wrauUMJSG8LWpdflDyLJmbMuF-7uSGUwqy1/s640/foto+2.JPG" width="480" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Era o comecinho dos anos 90,
Hilda Hilst tinha acabado de publicar O Caderno Rosa de Lori Lamby, a primeira de suas histórias "pornográficas". Ela vem passar uns dias em São Paulo para realizar exames no coração e
dá essa entrevista para o amigo (e discípulo) Caio Fernando Abreu. Foi publicada
na revista A-Z, onde Caio trabalhava, e as fotos são de Gal Oppido. É das melhores de Hilda e não está
incluída em Fico Besta Quando Me Entendem, livro que reúne entrevistas com
Hilda.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> <span style="font-size: large;"> A Festa erótica de Hilda
Hilst</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: large;"> </span>Caio Fernando de Abreu<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuEsKD__trA2Gfw-OUHacI3mOdDgpNLcCn-ggbqxRgqre-X6hQhV_tUc1Qb0SXHsdQIk5I3zPgBPQRQedcmfgaJhNmjl3covPiQgvOkFSOwacgPMgex-gFdtmHhtYcEsXd8MYfWOy7KDt_/s1600/foto+1.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1158" data-original-width="869" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuEsKD__trA2Gfw-OUHacI3mOdDgpNLcCn-ggbqxRgqre-X6hQhV_tUc1Qb0SXHsdQIk5I3zPgBPQRQedcmfgaJhNmjl3covPiQgvOkFSOwacgPMgex-gFdtmHhtYcEsXd8MYfWOy7KDt_/s320/foto+1.JPG" width="240" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Aos 60 anos de idade, com
mais de vinte livros publicados (o primeiro é de 1950) de poesia, ficção e
teatro, formada em Direito sem nunca ter exercido a profissão, desde 1967
recolhida à Casa do Sol, um sítio próximo de Campinas, depois de 40 anos de
literatura (e, segundo ela, silêncio sobre seu trabalho), há três meses Hilda
Hilst caiu como uma bomba nos meios literários brasileiros.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Com a publicação de O
Caderno Rosa de Lori Lamby, Hilda renunciou publicamente à literatura dita
"séria" - que lhe conferira, por parte do crítico Leo Gilson Ribeiro,
o epíteto de "o maior escritor vivo em língua portuguesa" - e decidiu
publicar, daqui para a frente, apenas histórias pornográficas. Bem-sucedidas,
essas histórias, já em segunda edição por Massao Ohno Editor, serão seguidas
por Contos de Escárnio e Maldizer, a ser lançado em setembro, pela Siciliano, e
pelo Diário de um Sedutor, a sair em 91.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Passando alguns dias em São
Paulo para realizar alguns exames no coração - nada de grave, talvez o coração
do poeta esteja apenas cansado -, Hilda Hilst falou com exclusividade para A-Z.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>LUCIDEZ</b><br />
"Quanto mais você fica lúcido, mais perigosa também fica a vida. Eu cheguei
num determinado momento, depois de repensar, trabalhar e meditar sobre a
finitude e o descontentamento do homem, em que tudo se tornou muito terrível,
fatal, desesperado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Depois de trabalhar muitos
anos nesses temas, você chega num momento perigoso. Você pode enveredar por
caminhos terríveis, e há momentos em que não há mais onde chegar, onde mexer,
principalmente se existe uma busca muito avassaladora dentro de você. Depois de
ter escrito tudo que eu escrevi, e eu sei que escrevi lindamente, que modifiquei
a prosa narrativa, eu tenho plena consciência disso, não aconteceu nada. Fiz
uma revolução na língua portuguesa, enfoquei os problemas mais importantes do
homem, procurei fazer o possível para o outro se conhecer. Fiz um lindo
trabalho. E não aconteceu absolutamente nada, não fui lida. Houve apenas dois
homens que se detiveram em meu trabalho: Leo Gilson Ribeiro e Anatol
Rosenfeld."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>ENGODOS</b><br />
"Não acho que eu tenha que sair pelas ruas falando sobre meu próprio
trabalho. Um escritor não tem a obrigação de falar bem, e além disso eu teria
que ser uma beleza, fisicamente, porque as pessoas dizem "ih, ela está
velha, ih", você viu. Nunca deu certo uma mulher medonha falar, só a Rosa
de Luxemburgo, que era medonha e fazia multidões ficarem vidradas diante dela.
É um desgaste pessoal enorme: além do dom da palavra, você tem de ser
agradável, charmosa, aparecer com uma boa roupa. Tudo isso custa dinheiro,
esforço, energia; você tem de dispender essa energia escrevendo, e não se
mostrando. Tenho certeza de que, se eu aparecesse, daria certo. Mas eu
considero isso um engodo."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjl89aDV2BI-aNltTccDstTIS-3kqgtPhZwiDmglOnC0-GpZ1EbyXKJiBAnxStEeG6mLrCdETKP6C0xfH6ug2FSwnomzEFreawehFLUE-E8Xo6gLkc6EfTYQyvTpmu6Cl04VNrunkU57Ac7/s1600/foto+4.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1158" data-original-width="869" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjl89aDV2BI-aNltTccDstTIS-3kqgtPhZwiDmglOnC0-GpZ1EbyXKJiBAnxStEeG6mLrCdETKP6C0xfH6ug2FSwnomzEFreawehFLUE-E8Xo6gLkc6EfTYQyvTpmu6Cl04VNrunkU57Ac7/s320/foto+4.JPG" width="240" /></a><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>PORNOGRAFIA</b><br />
"Não foi a pornografia que me atraiu: foi a leveza. Achei que, para o meu
músculo mental continuar ativo, eu devia optar pela leveza. Fiquei mais feliz
assim. Eu só me divirto, não sei dar nome a esse riso, não sei se é
pornográfico. Escrever livros como O Caderno Rosa modificou basicamente a minha
vida: está sendo uma festa para mim. Estou contente lá dentro, começo a
escrever e rio muito. Claro que, se isso não me divertir mais, eu vou parar de
fazer. Mas vou até onde o meu fôlego de humor permitir, porque tem sido delicioso,
para mim, agora, escrever. Era uma grande dificuldade antes, eu tremia diante
da página. Então, enquanto for uma coisa feliz, eu vou continuar fazendo esse
tipo de literatura."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>NUDEZ</b><br />
"Toda essa discussão sobre nudez na tevê e coisas assim parecem coisa
vitoriana. E completamente tolo. Penso sempre em Theodor Schroeder, que diz que
não existe um quadro ou um livro pornográfico, existe é um olhar diante
daquilo. Hoje você morre de rir com O Amante de Lady Chaterley, do Lawrence.
Ninguém mais fala aquele tipo de coisa que equivaleria a dizer "deixa-me
oscular tua rósea orquídea". Todo mundo tem medo de nomear o corpo humano
da cintura para baixo, isso é absurdo."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>DROGAS</b><br />
"As únicas drogas que não são tão perigosas são o álcool e o cigarro,
talvez a maconha. Tem coisas medonhas, a heroína, aquela coisa que se fuma, o
crack. Deviam mostrar os drogados morrendo, como também deviam mostrar os
aidéticos morrendo. Deviam mostrar o terror mesmo."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>EDITORES</b><br />
"Eles são uns canalhas, os editores, a verdade é essa. Mandei uma caixa
deste tamanho ao Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, com tudo que eu tinha
escrito. Quando telefonei, ele foi seco. Simpático, educado e tal, mas seco.
Entendi logo que ele não estava interessado. Ele, aliás, faz um tipo de coisa
que já vem pronta; ele entrega o que já fez sucesso lá fora. O Caio Graco, da
Brasiliense, foi a primeira pessoa a quem mandei O Caderno Rosa. Ele me disse
ao telefone: "Não posso publicar, é chocante e escabroso". É um
absurdo o que o editor faz com o escritor brasileiro. É ridículo, depois de 40
anos de trabalho, você receber como eu recebi por Com Meus Olhos de Cão, 30 mil
cruzados em quatro anos. Eles não têm nenhuma vontade real de que o escritor
apareça. É uma máfia. Parece que você tem de chupar o pau do editor, ser amante
do amigo, uma loucura."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqspsuqtHMiB78E-kjzFrWhzYFnmSsV_vJBbUW9T8g26Shq66IQK-ryEzJtmw-C3HMWD_p2ycNzf1IArM7qk28Hew0_RtfffgWGzeyiuN5cyfLLBqY8QXaJvRknzm1dZcikhzBfhfg1Tun/s1600/foto+3.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1158" data-original-width="869" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqspsuqtHMiB78E-kjzFrWhzYFnmSsV_vJBbUW9T8g26Shq66IQK-ryEzJtmw-C3HMWD_p2ycNzf1IArM7qk28Hew0_RtfffgWGzeyiuN5cyfLLBqY8QXaJvRknzm1dZcikhzBfhfg1Tun/s320/foto+3.JPG" width="240" /></a></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>IMPRENSA</b><br />
"Aquela matéria na Folha de São Paulo foi desagradabilíssima. Nenhum
verdadeiro escritor escreve por fama ou dinheiro. O Camarada escreve por
compulsão interior; nós somos uns obsessivos. Mas, de repente, numa cólera
enorme, você deve desejar fazer alguma coisa para chamar atenção - não para
você, mas para seu trabalho. Por que as grandes revistas não dão nada sobre
literatura brasileira? Você pode ficar pelada amanhã na Barão de Itapetininga,
como um gorro vermelho, que, se for um escritor brasileiro, nem assim você sai
na Veja. Outro dia saiu no Caderno 2 do estadão uma porção de críticos falando
sobre os melhores livros do mundo. Eles citaram basicamente autores estrangeiros
- Joyce, Dostoievski, Stendhal -, mas nenhum deles citou a Clarice Lispector.
Eu liguei para o Luiz Carlos Lisboa, no Jornal da Tarde, e falei: "Por que
o JT não deu nada sobre a Lori Lamby?" Ele disse: "Hilda, São Paulo é
uma cidade pudica". Muito bem, mas quando saiu a antologia de poemas
eróticos organizada pelo José Carlos Paes, o Luiz Carlos Lisboa fez um artigo
deste tamanho contando a história do erotismo a partir de Brahma, na Índia, e
tal. E a antologia do José Paulo, por favor... erotismo é outra coisa - aquilo
é pura bandalheira. Bandalheira da grossa."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>PACTO</b><br />
"Parece que os críticos adoram escritor morto. Você tem de morrer para ser
lembrado. Eu até propus à Lygia Fagundes Telles: "Você atira em mim e eu
atiro em você". Pode ser que assim falem da gente.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>ESCRITORA</b><br />
"Existe um grande preconceito contra a mulher escritora. Você não pode ser
boa demais, não pode ter uma excelência muito grande. Se você tem essa excelência
e ainda por cima é mulher, eles detestam e te cortam. Você tem de ser mediano e,
se for mulher, só faltam te cuspir na cara. Há anos a Heloneida Studardt me
disse: "Hilda, se você fosse um homem, escrevendo a prosa que você
escreve, você seria conhecida no país inteiro."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>OBSCENIDADE</b><br />
"Quando foi publicada a minha novela Kadós, o Massao Ohno, que era o
editor, mandou para uma gráfica que se chamava Santa Maria não sei do quê.
Quando vieram as provas, sempre que aparecia a palavra cu, eles não punham.
Aparecia co, ou ca, ou ci. Cu mesmo, nunca. O que há de errado com o cu, eu me
perguntava. Eles achavam absurdo, deviam ser freirinhas ou noviços que
manipulavam a gráfica, não sei. Obsceno não é o cu, mas as bombas Napalm. As
verdadeiras obscenidades, as políticas, ninguém toca nisso."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>SIMPÓSIO</b><br />
"Ano passado eu fui nuns debates, uma coisa para educadores, e uma senhora
me perguntou por que eu escrevia assim, dessa forma tão angustiada. Eu
respondi: "Minha senhora, nós temos basicamente sete orifícios. Se a
senhora não os lava a cada dia, a senhora fede. Isso não a angustia? Criou-se
um problema horrível. Sim, a mim angustia profundamente ter de fazer essas
coisas todo dia. Vem a história da finitudem da degradação do corpo. A carne
acaba, e depois disso - depois disso, nada."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>UNICAMP</b><br />
"Tenho sobrevivido nos últimos anos graças à Unicamp. A Unicamp tem sido
minha mãe, com o projeto Escritor Residente. Não sei se é a única, mas sei que
foi a primeira universidade brasileira que fez esse projeto. A universidade
devia ajudar mais o escritor brasileiro."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>INTELECTUAL DO ANO</b><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"Essa história foi muito engraçada. Acho que os membros da UBE (União
Brasileira de Escritores) me escolheram pensando que não ia dar certo, claro
que eu ia ter uns dois votos contra uns 300 do bispo Dom Paulo. Mas eu fui
dando certo, ninguém sabe por que, e eu achando um absurdo - meu Deus, eu e o
clero. Daí parece que houve alguma coisa terrível, parece que, pela Cúria, o
Dom Paulo tinha de ganhar de qualquer jeito. Quando eu vi que não saía mais
nada na imprensa, eu pensei 'bom, acho que ganhei, porque comigo é sempre
assim, um silêncio absoluto'. Mesmo tendo perdido, agradeço a homenagem e tal,
mas dá um pouco a impressão que 'intelectual do ano', é porque você ficou
intelectual naquele ano, foi alfabetizada e ficou cultíssima..."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>ALEMÃES</b><br />
"Não sei bem por que, mas eu vejo o humor imediatamente nos alemães. Numa
das histórias que escrevi, uma das partes mais engraçadas é um diálogo entre
uma mulher e um alemão chamado Otto. Ele diz assim: 'non gostarr, senhora
Eulália, do jeito que senhora chuparr o meu pau'. E ela: 'mas por que, seu
Otto?'. E ele: 'Porque a senhorra fazerr cara de nojo, no gostarr'. E a mulher:
"Bom, seu Otto, eu vou tentar fazer melhor e tal'. O alemão tem alguma
coisa de hilário. Veja só vagina, em alemão, não lembro agora, mas é uma
palavra deste tamanho, uma coisa absurda."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>ANTI-AIDS</b><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"Eu acho que o livro
pornográfico é uma coisa anti-Aids. Lendo literatura erótica, você pode voltar
a esse hábito solitário que várias pessoas extraordinárias acharam extraordinário
também. Porque tem essa coisa católica, desde criança você ouve a mãezinha
falando para o filhinho 'não se masturbe, meu bem, você vai morrer'. É o
contrário: acho formidável hoje você ler um livro pornô e se masturbar. Não é
melhor do que pegar Aids e morrer?"<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>CAZUZA</b><br />
"Acho terríveis essas declarações que o Cazuza fazia: 'A droga me abriu a
cabeça', 'A Aids é contra a sacanagem', 'Não sou um aidético casto'. Se eu
ficasse aidética, me poria de joelhos no deserto, tomando água e só. Eu tive
contato pessoal com a Aids através do meu sobrinho, que morreu em feverereiro.
É horrível a pessoa morrer de Aids; não pode ficar essa imagem engraçada,
porque é uma coisa horrenda. Esses tipos de frases do Cazuza são um absurdo
porque você não pode brincar com essa coisa. As pessoas não podem pensar que é
brincadeira."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>LITERATURA </b><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"A literatura tem de
refletir o cara que está escrevendo, como ele é diante do mundo. A única forma
de você passar alguma coisa real para o outro é já ter vivenciado aquilo,
realmente. Você não pode mentir, quando escreve. A única coisa que não é
permitida na literatura é mentir."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>OUTROS ESCRITORES</b><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"Existem ótimos
escritores por aí. Existe, por exemplo, o João Silvério Trevisan, que é de
primeira linha.Vagas Notícias de Melinha Marchiotti é excelente. Esse ensaio
dele, Devassos no Paraíso, é o melhor ensaio que já li sobre homossexualismo.
Ele demorou oito anos trabalhando, e não aconteceu nada, ele é recusado pelas
editoras. Por que essa moça, Ana Miranda, conseguiu ser editada? Todo mundo já
falou lindamente sobre Gregório de Mattos... O que acontece é que escritor
brasileiro é um coitado. Os editores não aceitam o autor pensando, o autor
brasileiro não pode pensar. Aqui está cheio de escritores bons para os editores
investirem."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>JECA-PORNÔ</b><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"Adoro essas histórias
que ando escrevendo com personagens rurais, ou que não sabem falar direito o
português. É o que eu chamo de jeca-pornô, como a história daquele moço chamado
Edernir, que está na Lori Lamby. Eu tenho um dicionário ótimo de palavrões, que
o meu médico dermatologista me deu, dum cara chamado não sei o quê Souto Maior.
É lindo, você precisa ver tudo que tem lá. Todos os sinônimos fantásticos de
crica, vagina..."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>PORNOGRAFIA II</b><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"Ninguém chegou a uma
conclusão sobre o que é pornografia. Me pergunto se seria o ultraje ao espírito
do homem, seria uma coisa assim? Talvez o obsceno profundo, que seria um
enfoque completamente diferente, seja aquele em que a lucidez do personagem é
tão grande que a coisa fica obscena. Mas essas brincadeiras que tenho escrito,
você não pode dizer que sejam obscenas ou pornográficas. E não entendo por que
muita gente ficou tão ofendida com a Lori Lamby. Eu dei para Wesley Duke Lee
ler, que eu julgava um homem do mundo, aberto e tudo, e ele disse: 'É horrível,
Hilda. Que coisa horrorosa, é um lixo o que você escreveu'. Tenho um amigo,
articulista de um grande jornal, que leu os Contos de Escárnio e Maldizer e
falou: 'Não publique isso, porque é perigoso'. Não entendo, Aqueles contos da
Anais Nin, por exemplo, são finos demais, delicados. Não são para tempos de
Aids, as coisas têm de ser mais pesadas, para você ter aquele prazer que, lendo
Anais Nin, você não tem."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>LINGUA PORTUGUESA</b><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"Eu sei que escrevo
muito melhor que muitas mulheres européias e americanas. Mas quem é que fala o
português? Bem, milhões de pessoas falam, mas ninguém lê nessa língua. Lá em
Goa, Guiné-Bissau, Moçambique, todo mundo deve falar na feira: quanto custa
esse tomate? e essa alface? O abacate está bom? Não adianta milhões de pessoas
falarem, se ninguém lê. E até no caso de você querer ler um livro erótico a
dois para se masturbar com o seu parceiro, vai ser dificílimo. Naturalmente,
você teria de ir para a Europa ou Estados Unidos, porque, com 70% de
analfabetos por aqui, vai ser difícil encontrar não só um parceiro, mas ainda
por cima que leia."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-948208918077754552018-06-12T13:57:00.003-03:002018-06-12T14:17:31.030-03:00Caio Fernando Abreu volta à Companhia das Letras<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj34zznOl8OYdD7kF46DIvoprIexuu3Ap5bEI-X9Ju4QGZUgbBEv7rfxNN0DjOGeDf71GCVn5rOgg65tiAWTQQyU0bN_rYebBsv-hcDF_ex6iwi5NYSqRa3vfHql_QreOPPOdQLBzvNuYFE/s1600/Caio+F_Contos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="499" data-original-width="348" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj34zznOl8OYdD7kF46DIvoprIexuu3Ap5bEI-X9Ju4QGZUgbBEv7rfxNN0DjOGeDf71GCVn5rOgg65tiAWTQQyU0bN_rYebBsv-hcDF_ex6iwi5NYSqRa3vfHql_QreOPPOdQLBzvNuYFE/s640/Caio+F_Contos.jpg" width="446" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Os Dragões Não Conhecem o Paraíso, Onde Andará Dulce Veiga e o póstumo Estranhos Estrangeiros saíram pela Companhia das Letras, em 1988, 1990 e 1996, respectivamente. Depois, a obra de Caio Fernando Abreu passou por várias editoras. Agora, a cia das letras anuncia a publicação de sete livros do autor. Contos Completos (capa acima), o primeiro, sai no final de julho. Com mais de 700 páginas, reúne os seis livros de contos de Caio F. e mais dez textos avulsos. Deve ser edição caprichada e Caio F. ficaria feliz com seus contos todos reunidos, como aconteceu há pouco com os de Clarice Lispector.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Abaixo, o folheto onde a editora anuncia o lançamento dos livros de Caio F. E na frente, um trecho do conto Os Dragões Não Conhecem o Paraíso</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjS0eA_c1HxOY-EbmKnWLTqib3IkCPuh-skAfc_w4MvuBfIy0VnADhhn5xi3SjVNepSX4gCWkP5X-QMvNkxzo9KHY0sgRcCygifY5Rr9vPJx1HIFWI-4UxxErzJU8wydgYEQQ0xOIDfTiBg/s1600/cia1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="649" data-original-width="487" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjS0eA_c1HxOY-EbmKnWLTqib3IkCPuh-skAfc_w4MvuBfIy0VnADhhn5xi3SjVNepSX4gCWkP5X-QMvNkxzo9KHY0sgRcCygifY5Rr9vPJx1HIFWI-4UxxErzJU8wydgYEQQ0xOIDfTiBg/s640/cia1.jpg" width="480" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9oH4fCrra84q0irOGOmyGCrJXAmniJ_oYO9NWEfgeSdSzKstZNTGwl-nf_49mbiCGZDkd0DOV9IXtyCSP_DAVMfzSZHjqnDF0WijJCXIhqsJfoGO-YL0H4fkuYMqyEacacdm6pXsN9siR/s1600/Cia2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="649" data-original-width="487" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9oH4fCrra84q0irOGOmyGCrJXAmniJ_oYO9NWEfgeSdSzKstZNTGwl-nf_49mbiCGZDkd0DOV9IXtyCSP_DAVMfzSZHjqnDF0WijJCXIhqsJfoGO-YL0H4fkuYMqyEacacdm6pXsN9siR/s640/Cia2.jpg" width="480" /></a></div>
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-30243362369116455072018-06-09T16:41:00.003-03:002018-06-09T16:41:49.831-03:00Oracão à Paranóia<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdFdjBZCnE2h_cY1vyCttUoA-p0yh7g2_7156TfpEHvS7ijaUc63o6UbrdblltiTjPnpIauC9GUHYZrLNX7_HCK8DzwfiQ0qq1Ip4SE-6dk-2Cz-7MyCd05TdKB0PQCZwo5rTplSpi_irK/s1600/Caio_Nicolau+89.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1219" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdFdjBZCnE2h_cY1vyCttUoA-p0yh7g2_7156TfpEHvS7ijaUc63o6UbrdblltiTjPnpIauC9GUHYZrLNX7_HCK8DzwfiQ0qq1Ip4SE-6dk-2Cz-7MyCd05TdKB0PQCZwo5rTplSpi_irK/s640/Caio_Nicolau+89.JPG" width="484" /></a></div>
<br />
Publicado no Nicolau, jornal cultural de Curitiba, em 1989Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-80017417279886123472018-04-03T18:05:00.002-03:002018-04-03T18:05:25.410-03:00"É um escritor que nasce adulto": resenha do primeiro romance de Caio F.<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Limite Branco, o primeiro romance de Caio Fernando Abreu, foi lançado logo após o livro de contos Inventário do Irremediável. Esta resenha foi publicada no Diário do Paraná, em 31 de janeiro de 1971. É interessante lê-la após tantos anos. Abaixo dois trechos:</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">"Com 22 anos de idade, Caio Fernando Abreu é alguma coisa mais que um escritor jovem, algo mais do que uma simples promessa: é um escritor que nasce adulto."</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">"Não se enganem: a sinceridade, a verdade pessoal e o dom de escritor destas páginas fazem delas não um simples romance de estréia, mas um romance talentoso e maduro."</span><br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjmWtDmr-BNYSabmPWYkRp_ykwexYpUVf1X9GURHf8pgXLtL38rYrr-Mab9bWo0KsczuyjzmtSTif0vauHoFUGvoCrRr__Dehr7gc7hrKPYPZD3LGWER2BF1QApeV5dvxZhu0uN0E-phD0/s1600/image.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="514" data-original-width="464" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjmWtDmr-BNYSabmPWYkRp_ykwexYpUVf1X9GURHf8pgXLtL38rYrr-Mab9bWo0KsczuyjzmtSTif0vauHoFUGvoCrRr__Dehr7gc7hrKPYPZD3LGWER2BF1QApeV5dvxZhu0uN0E-phD0/s640/image.png" width="576" /></a></div>
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-84934216241853921042018-02-25T11:29:00.000-03:002018-02-25T11:31:00.372-03:00A hora da estrela de cinema de Caio F.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; text-align: start;">22 anos da morte de Caio F. hoje. Aqui, a hora da estrela de cinema do belo: uma participação especial em Perfume de Gardênia, de Guilherme de Almeida Prado.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; text-align: start;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkC9A-iM3zT3TR9MCnKhYi47qfKpHYxTwM7pnwNXuSlSb5YVR4KSA0tA3z-ZcToiXKgwFchCUkpPqSwQq188kC2wU2Ubc6y89-DYNM_DSOxI4cjXPlfhj3GId7RCzLKkucBCnP2aZQbWfM/s1600/CaioAtor.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="425" data-original-width="710" height="380" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkC9A-iM3zT3TR9MCnKhYi47qfKpHYxTwM7pnwNXuSlSb5YVR4KSA0tA3z-ZcToiXKgwFchCUkpPqSwQq188kC2wU2Ubc6y89-DYNM_DSOxI4cjXPlfhj3GId7RCzLKkucBCnP2aZQbWfM/s640/CaioAtor.png" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4nUco_16VuusbehsHNHfJDZdztiR5qWCvkIHHZKfLpOILzD6NtnX5u8cJJR_r1A61Gm3DVBmjjkT1JOWPhJUKfDgpCIUG_eVIrYziyAt9-3W1dsLXjpc8xiHBSals9aEGIlrNfoRjGRPe/s1600/Caioator2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="421" data-original-width="706" height="380" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4nUco_16VuusbehsHNHfJDZdztiR5qWCvkIHHZKfLpOILzD6NtnX5u8cJJR_r1A61Gm3DVBmjjkT1JOWPhJUKfDgpCIUG_eVIrYziyAt9-3W1dsLXjpc8xiHBSals9aEGIlrNfoRjGRPe/s640/Caioator2.png" width="640" /></a></div>
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-21986679067919040682018-02-15T14:12:00.000-02:002018-02-15T14:12:33.334-02:00Viver é expor-se ao perigo. Escrever também<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbSaMefIqZjQNBCqSLo3plXIToDCyk-kZV_9WiLr0MSwZ8aBDHpyUPfuvnx0G4Yw2ANRm4nOgZxyfahh2j7a_OJyaBIvl-DjOBITNJh1PHe-dJ0PU6KtiLyHjCA-xtQbGvAMbnA4sDKm93/s1600/opini%25C3%25A3o_Capa.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1149" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbSaMefIqZjQNBCqSLo3plXIToDCyk-kZV_9WiLr0MSwZ8aBDHpyUPfuvnx0G4Yw2ANRm4nOgZxyfahh2j7a_OJyaBIvl-DjOBITNJh1PHe-dJ0PU6KtiLyHjCA-xtQbGvAMbnA4sDKm93/s200/opini%25C3%25A3o_Capa.JPG" width="143" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A capa</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; text-align: justify;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Era 1976 e Caio Fernando de
Abreu foi um dos sete novos escritores brasileiros reunidos pelo jornal alternativo
<b>Opinião</b> para falar sobre a literatura brasileira. "Eles não são best-sellers, nem costumam
dar entrevistas sobre o boom literário que, acreditam alguns, assola o país.
São apenas escritores, cientes de que existem polêmicas mais urgentes do que,
por exemplo, a divisão entre populistas e vanguardistas". <i><b>Sete autores contra o beletrismo e as
panelinhas literárias</b></i> era o título da matéria de capa da edição de abril, quatro
páginas. Caio tinha já havia lançado
três livros: <b>Inventário do Irremediável</b>, <b>Limite Branco</b> e <b>O Ovo Apunhalado</b>. Abaixo
o que ele falou na entrevista - segue a pergunta e sem o que os demais entrevistados falaram</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><o:p><br /></o:p></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-T4tk1MkHCNcqvnugRdkwrJFbwoO7SWDZKlgG5sUPxzlUSzjtKRdDU9ERtf9rQ8wN0KQ6qSfAOBy5jnwz5ZDRJft70qIA_LPdrP2fpijR-5IHlIibpP3ZWt8W9icJpQ8FM0halzX5fhia/s1600/Opini%25C3%25A3o+2.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1109" data-original-width="1251" height="352" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-T4tk1MkHCNcqvnugRdkwrJFbwoO7SWDZKlgG5sUPxzlUSzjtKRdDU9ERtf9rQ8wN0KQ6qSfAOBy5jnwz5ZDRJft70qIA_LPdrP2fpijR-5IHlIibpP3ZWt8W9icJpQ8FM0halzX5fhia/s400/Opini%25C3%25A3o+2.JPG" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A abertura da matéria</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><o:p><br /></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i>Opinião: Qual é o papel
social do escritor no Brasil e na América Latina hoje em dia?</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><b>Caio F</b>.: O papel social do
escritor no Brasil, na América Latina e no mundo inteiro será sempre, e sob
quaisquer condições, lutar pela liberdade de expressão.O intelectual será
sempre um contestador. Denunciar, sempre, é a sua função. Denunciar a
violência, a corrupção, a repressão, a intolerância. Ajudar na recuperação da
dignidade humana. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i>Opinião: Mas existem fatores
imediatos que agravam esta crise, que condicional hoje, de forma diferente, a
expressão literária?</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><b style="font-family: Arial, sans-serif;">Caio F</b>: Impossível separar,
hierarquizar: é um todo. As barreiras do escritor brasileiro em relação à
literatura são as mesmas do homem brasileiro em relação à vida. Ao outro. A si
mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i>Opinião: Mas então não
existem vínculos?</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><b style="font-family: Arial, sans-serif;">Caio F</b>: O presente é sempre
resultante do passado, uma consequência. Ninguém se desvencilha, facilmente, de
suas origens, de suas raízes. Mas creio que um escritor deva ser fundalmente um
homem de seu tempo. Seria ridículo, irreal e anacrônico escrever, em 1976, como
Machado de Assis, por exemplo. Mas para compreender o presente, devemos
conhecer o passado, a História. Para nos libertarmos do passado é necessário
assumir o presente. E encarar o futuro, se é que ele existe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i>Opinião: Parece que
predomina, nesses termos, a personalização da obra, não há propriamente um
movimento literário, em termos organizados, certo?</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><b style="font-family: Arial, sans-serif;">Caio F</b>: Eu não sei, não...
Dizem que escrever um romance hoje em dia <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>é procurar a melhor maneira de assassinar o
romance. Não acredito nisso. O romance já foi assassinado por Joyce, faz muito
tempo. E entre nós, por Oswald e Mario de Andrade. Não gosto dessa
diferenciação conto-novela-romance. Existem textos de ficção. A rigidez só pode
limitar. A liberdade total de criação é o caminho. Não só em literatura, mas em
qualquer forma de arte, e também na vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i>Opinião: E que lugar ocupa o
Realismo Mágico na literatura brasileira?</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><b style="font-family: Arial, sans-serif;">Caio F</b>: O Realismo Mágico tem
na literatura brasileira o mesmo lugar que em outros sistemas sociais
semelhantes. Na medida em que não se permite ao artista ser claro, ele recorre
à metáfora do presente. Mas também existe o pseudo-Realismo Mágico sem vínculo
algum com a realidade. Não é nada disso. Trata-se, repito, de assumir o nosso
tempo. Aqui e agora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i>Opinião: E o autor jovem
deve lutar, então, para ser editado?</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><b>Caio F</b>: Lutar não só para ser
editado, mas também para ser distribuído - o maior problema - divulgado e lido.
Lutar sempre. Impor a nossa presença. Não permitir que nos vaporizem ou invisibilizem.
Existimos e temos muito para contar, e acreditamos em nossas histórias, em
nossas vivências. Se achamos que podemos dar ao outro algo de bom, então vamos
lá. Fé cega e faca muito bem amolado. 1976 é o ano de São Jorge. Afiar a lança
para matar novamente o dragão</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;">.<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIzr6N9I7QQZbDxHEf0Ayf8F9LAEzl0bT8kvfxJXfqLwGEppMZ6o1yENw0zZ326N0ssAD5ye-baGszA9QlD3gqOUoPKPs6n8MdoTNF1Zdlegz9fzfkSDskaCGH9IRS5xHCNbNfBo894xIh/s1600/Opiniao+3.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="586" data-original-width="241" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIzr6N9I7QQZbDxHEf0Ayf8F9LAEzl0bT8kvfxJXfqLwGEppMZ6o1yENw0zZ326N0ssAD5ye-baGszA9QlD3gqOUoPKPs6n8MdoTNF1Zdlegz9fzfkSDskaCGH9IRS5xHCNbNfBo894xIh/s320/Opiniao+3.JPG" width="131" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i>Opinião: Mas nós já
discutimos os condicionantes, e já falamos a respeito do consumismo que grassa
por aí. Lutar, certo, de peito aberto, sim, mas e os riscos que se corre?</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><b><br /></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><b>Caio F</b>: O risco a que eu me
exponho, publicando, é o mesmo que corro estando vivo. Mas, realmente vivo,
consciente e participante. Viver é expor-se ao perigo. Escrever também. Sempre
tem um Hélio Pólvora nos acusando de plagiar um conto que nunca lemos. Medo?
Porquê? Se não somos editados, não somos distribuídos, não somos divulgados,
não somos lidos e nem sequer respeitados em nossa integridade, o que temos a
perder?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i>Opinião: E não é nesse
contexto que se formam as panelinhas?</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><b>Caio F</b>: Existe uma lealdade
básica que não deveria ser atraiçoada. As coisas só são fortes se forem
grupais. Divisões internas, competiçoezinhas provincianas, panelinhas? Ridículo
e inútil. Como diz Nei Duclós, poeta gaúcho, em Outubro: "Confio na
solidão que nos une / e na vontade de quebrar tudo / que cresce aos poucos como
um fruto".<span style="font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-88978102822355198412018-01-22T16:17:00.000-02:002018-01-22T16:17:08.332-02:00Adivinhe quem vem para roubar<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil4FkxWW0DpAGUJNh7bzOL84oQGEf-59CGAUk5ZxhGuWC-o8_t4eScT79nrCMi_XaTqKYJNp_CIfNn1G1bSFY0E3Wfvc4d1jT7q66Fc7QLG3_uYd60_RIWpn0FmbBuYVUMOn3ejacn0Irx/s1600/Caio_Coll.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="372" data-original-width="1006" height="236" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil4FkxWW0DpAGUJNh7bzOL84oQGEf-59CGAUk5ZxhGuWC-o8_t4eScT79nrCMi_XaTqKYJNp_CIfNn1G1bSFY0E3Wfvc4d1jT7q66Fc7QLG3_uYd60_RIWpn0FmbBuYVUMOn3ejacn0Irx/s640/Caio_Coll.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12pt;"><i>Em 1993,
Caio F. escreve sobre a volta dele. De quem? "não digo nem escrevo o nome
dele", ele escreve. "E não digo que volte direto por cima (embora
seja essa a meta), mas passo a passo. Deputado, senador." Pois, quase 25
anos depois dessa coluna de Caio, o tal anuncia que está na disputa à presidência. Abaixo a coluna</i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> </span><span style="line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Adivinhe
quem vem para roubar</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Fiquem atentos, ele quer voltar. Nas últimas semanas, aqui e
ali pelos jornais, encontro notas sobre a mudança para São Paulo, sobre o livro
que está escrevendo e até mesmo algum artigo estofado de palavras gordas tipo <i>justiça, pátria, dignidade</i>. Em fotos
recentes, continua com aquele ar entre o pinguim de geladeira e ator canastrão
de melodrama chicano, agora acrescido de certa aura estudadamente humilde. Como
se quissesse deixar bem claro que sofreu-e-aprendeu-com-o-sofrimento. Atenção,
a cilada está se armando. Como antes, tão lenta que mal se percebe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Porque ele é espertíssimo. E não digo que volte direto por
cima (embora seja essa a meta), mas passo a passo. Deputado, senador. No
começo, não recusará os mais insignificantes espaços da mídia - e esta, o que é
horrível, lhe dará espaços cada vez maiores, mais nobres. (Se é que se pode
usar a palavra "nobre" em situação desse tipo.) Também porque virá o
livro, e haverá o pretexto de divulgá-lo e naturalmente vendê-lo. Aos quilos,
lógico. Tudo é business, aqui e no Haiti.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Até que, num final de semana, você vai tropeçar na cara dele
na capa das principais revistas do país. Humílimo, sofridérrimo, luzes
acentuando certas rugas amargas, certas sombras, quase santo. E enquanto rolarem
inimagináveis conchavos políticos por trás, a imagem começará a nos bombardear
de novo. Já imagino os sentimentos coletivos a serem utilizados em slogans
autopunitivos e maquiavélicos: erramos, fomos injustos, nunca é tarde para
corrigir um erro. Ele vai declarar que tinha certeza de que não o deixariam só,
como pedira, que o povo brasileiro, minha gente, não o trairia, que agora sim
vamos retomar o crescimento e a arrancada em direção ao século XXI e
patati-patatá, lembram?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quando chegar o momento, virão votos em penca das regiões
mais medonhas do país. Como da outra vez. Haverá fraudes, acidentes
providenciais em caminhões que conduziriam eleitores do outro candidato - e
isso y otras cositas, jamais será esclarecido. Em seguida, estonteantes viagens
internacionais, superjatos, transatlânticos, jet skis, talvez um novo casamento
(o anterior, convenhamos, é difícil reabilitar). Sugiro: Lady Di após o
divórcio, ou Madonna (já que ela vem aí, não custa tentar. No caso de elas não
toparem, quem sabe Sula Miranda (aquela porção sertaneja)? E por que não Xuxa,
tão solitária e combalida sob o peso daquela estressante montanha de dólares?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Calma, também não precisa delirar... mas ele quer voltar, do
fundo mais lodoso de minha paranóia congênita - acho claríssimo. Ele sabe que,
das muitas doenças graves que afligem o país, a mais grave é talvez não
suportar a própria cara. Como da outra vez, quando em vez da rude cara operária
do outro preferiram a empoada dele, simulacro estúpido dos galãs de TV. Como se
votando nele se tornassem ele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E os caras-pintadas, meu Deus, vão ficar com as caras no
chão! Aprenderão na carne aquilo que sempre ouviram dizer: o Brasil, meus
filhos, é um país sem memória. Tanto que, até hoje, ainda não percebeu que este
horror onde estamos atolados não passa do saldo legado por ele. A impunidade
para ele e seus capangas nos deixou uma inversão moral nojenta: se você é
honesto, você é trouxa. Não viram ele? Se ainda não, arregalem bem os fatigados
olhos: exatamente um ano depois de ter sido corrido, armando todas para voltar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não digo nem escrevo o nome dele. Como aquela palavra, o
contrário de sorte, cuja carga negativa desaba sobre quem a pronuncia. Pois
isso é o que vai acontecer a quem se deixar enganar outra vez. Não digam que
não avisei. Só vai ser difícil me achar para dizer qualquer coisa. Porque se
isso acontecer mesmo - além da imaginação - peço aos amigos que me joguem num
hospício e me deixem lá. Incomunicável.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> O Estado de S. Paulo, Caderno 2, 3 de
outubro de 1993<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-12926486723080992022018-01-18T16:59:00.000-02:002018-01-18T17:14:53.866-02:00Lamúrias com chantilli <div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i>Daí um senhor das Minas Gerais escreve para reclamar das
lamúrias de Caio F. e ele, que nunca responde cartas de leitores, responde. A
crônica é uma maravilha. Uma espécie de resposta aos haters, antes das redes
sociais.</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8Gy_DXYQCL5uMVgc4S0Rl8rQLm7XzobIAEuxKf2b8BQ2nFXjDhh3CW5H_N42HYPs3AXOdkj5cSphNX_lzZ3eyYlyWiSFObNXSFTby6fgauPOi9hyhatkwenGtvBFZvslWJL9GA50LleXB/s1600/CaioLamurias.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="379" data-original-width="648" height="374" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8Gy_DXYQCL5uMVgc4S0Rl8rQLm7XzobIAEuxKf2b8BQ2nFXjDhh3CW5H_N42HYPs3AXOdkj5cSphNX_lzZ3eyYlyWiSFObNXSFTby6fgauPOi9hyhatkwenGtvBFZvslWJL9GA50LleXB/s640/CaioLamurias.png" width="640" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;"> Lamúrias com chantilli</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i>Só mesmo as mães são felizes.<br />
Ou: caretas de Paris e New <br />
York sem mágoas estamos aí</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Recebo muitas cartas de
leitores. Nem sempre - ou quase nunca -
respondo. Fico contente e grato, mas não tenho tempo. Também porque a maioria é tão legal que nem pede
resposta. Só dizem coisas boas, dão força. Ter leitores me espanta, não consigo
acreditar muito nisso. As cartas, alguns telefonemas também, desmentem essa
sensação. E é aí que sinto medo, porque vem o peso da responsabilidade sobre o
que dizer. Mas se deixo o medo baixar, eu travo e não escrevo nada. Então,
quando sento para escrever, é como se não tivesse leitor algum em parte alguma
do mundo. Fico só preocupado em dizer alguma coisa que eu mesmo realmente
acredite. Que seja verdade dentro de mim, e assim será muito amplo: porque eu
sou todo mundo, entende? Quem é da mesma família, entende sem muita explicação.
Quem não é, fazer o quê? Dar detalhe cansa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mas eis que, semana passada,
chegou uma carta irada. Um senhor lá das Minas Gerais dizia-se cansado das
minhas "lamúrias". Falava coisas como "pessimismo mórbido e
doentio" (oh Deus, estes oito anos de análise e uma alta servem pra quê? e
- medo - dizia-se temeroso que eu "influenciasse os jovens a cometer
suicídio". Nefasto Caio F.: seria eu tão poderoso e fatal assim? Uma
espécie de Jim Jones da crônica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Isola rápido. Ô, meu senhor,
não quero isso não. Queria outro mundo, outra ordem social, outras relações
humanas - e me sinto um tanto idiota tentando explicar o que me parece óbvio.
Mais carinho, mais beleza, mais justiça, mais alegria. Qualquer coisa que qualquer
pessoa razoavelmente normal (mas "de perto ninguém é normal",
lembra?) quer. Mesmo um punk, só que o jeito de querer do punk é do avesso. E o
avesso é um jeito tão bom quanto qualquer outro. Além disso, não tem só cara e
coroa. Tem cara, coroa - e quina também.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E é aí que não entendo
certas pessoas. Principalmente essas que chamo de "as trolhas do
apocalipse". Sabe aquelas bem-intencionadérrimas? Sabe aquela linha
o-que-será-do-futuro-de-nossas-criancinhas? Sabe aquela linha
vamos-valorizar-o-sorriso-de-uma-criança-o-voo-de-uma-borboleta-e-o-azul-do-firmamento?
Viver é barra, meu senhor, Deus é naja e o amor - com licença de Maria Rita
Kehh - é uma droga pesada. E nada tenho contra najas, barras e drogas pesadas.
Só não acho que fazer aquele cretiníssimo "jogo-do-contente" de
Pollyana seja a melhor maneira de enfrentar e compreender o real. Todo mundo é
médico e monstro. A vida também. Você deve ficar ao lado do médico, mas encarar
o monstro quando ele pinta. Senão, meu caro, um dia ele te devora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Acho que todo mundo
interessado em situar-se um pouco nestes anos 80 deveria ouvir pelo menos uma
vez Só as Mães São Felizes, de Cazuza. Tá tudo lá. Amargura não existe, quando
se tenta compreender. E pessimismo, pra mim, é palavra sem sentido quando penso
em Chernobyl ou Cubatão. Nem sempre o que é fácil é bom - me dizia um Dragão,
naquele domingo de chuva no aeroporto. Auto conhecimento, e por extensão
inevitável o conhecimento dos outros e do mundo, não é exatamente um mar de
rosas. Mas nunca tive medo de nada - de dentro ou de fora - que pudesse ampliar
minha consciência. Acho que esse é o único jeito digno de ser. Por isso mesmo,
durmo em paz toda noite. Muitas vezes só, confuso, angustiado, assustado - mas
absolutamente certo que sou uma pessoa legal. Ainda não nasceu a trolha do
apocalipse capaz de me provar o contrário. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Metade luz, metade treva. E
esse fio de navalha entre os dois, corda bamba afiada onde você, sombrinha
aberta da mão, pé ante pé se equilibra. Ou tenta. Sem rede de segurança, mas
com um sorriso nos lábios, e um grande, sonoro, enorme axé! no coração. Pra
todos nós.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> OESP, Caderno 2, quinta-feira, 9 de outubro de
1986<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-64430478633979116272018-01-13T17:16:00.003-02:002018-01-13T17:16:16.806-02:00Por enquanto é só<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRfxt6i_p4yVw32oPiNsGOhOdbdUlFcId9WtxUvGn9RrDKvR2MHyeg5T048g5ArllMqXiw7qjAuhUNTpmVc9fxmai8LHfS-mAU1ggbWrSH5Qm30Jply2w6FOMk5PbVICbtz6Rwbzpy698D/s1600/Caio_fo.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="382" data-original-width="410" height="297" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRfxt6i_p4yVw32oPiNsGOhOdbdUlFcId9WtxUvGn9RrDKvR2MHyeg5T048g5ArllMqXiw7qjAuhUNTpmVc9fxmai8LHfS-mAU1ggbWrSH5Qm30Jply2w6FOMk5PbVICbtz6Rwbzpy698D/s320/Caio_fo.png" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;">A certa altura de <b>Alice Que
Delícia</b>, peça de Antonio Bivar, uma das personagens (a filha Dilema) refere-se
ao "boom das cantoras sapatas". Ou seja - aquele monte da cantoras de
MPB surgidas nos anos 70, no auge do feminismo e de <b>Malu Mulher</b>, que o público
aprendeu a identificar mais pelas características sexuais do que pelas vocais.
Lembrou? Aposto que, em um minuto, você é capaz de identificar pelo menos meia
dúzia. A elegância me impede de citar nomes. Ouvindo <b>Só</b>, primeiro LP
(independente) da cantora Fortuna, essa história me voltou à cabeça. talvez
daqui a dez anos, repensando a música brasileira deste final de década, alguém localize
outro boom: as cantoras de vozes agudas. Lembrou? Aposto que, em um minuto,
você é capaz de lembrar pelo menos meia dúzia. E a elegância, novamente, me
impede de citar nomes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;">Não que Fortuna não seja uma
boa cantora. Ela é: afinadíssima e cheia de bom gosto na escolha do seu
repertório - quatro músicas de Itamar Assunção (também produtor do disco),
outra de Luiz Melodia, uma de Tetê Espíndola, outra de Arnaldo Black, mais um
velho Tim Maia (<b>Não Vou Ficar</b>, antigo sucesso de Roberto Carlos) e um
velhíssimo Herivelto Martins (o belo <b>Caminhemos</b>, em arranjo e interpretação
apáticos). O problema é a receita. As cantoras do boom de vozes agudas adoram a
vanguarda (?) paulistana (surpreendente, em Fortuna, é não gravar nenhum
Arrigo, nenhuma versão de Augusto de Campos) e invariavelmente (re)gravam um
Roberto Carlos, uma música francesa ou italiana dos anos 50/60 (Fortuna escapou
dessa) e um clássico de "fossa". No release mesmo, Itamar avisa:
"ela gravou Caminhemos, como poderia ter regravado As Rosas Não Falam, de
Cartola, ou Trem das Onze, de Adoniran Barbosa". Ou (o acréscimo é meu) A
Noite do Meu Bem, de Dolores Duran, ou Nada Além, de Custódio Mesquita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;">Por esse repertório, passeia
a voz de Fortuna. Previsível o primeiro, bem educada demais a segunda. Quase
impessoal, sem nenhuma emoção. Você coloca e vai ouvindo e vira o disco com a
impressão de que é sempre a mesma eterna faixa: correta, oportuna, com
teclados, violões, guitarras e percussões entrando na hora certa. Lá pelas
tantas a moça pergunta se o ouvinte tem lido Leminski, Jorge Mautner. No meu
caso, decididamente não. Serve Adélia Prado, Armindo Freitas Filho, Sérgio
Sant'Anna? Duvido. A julgar por Fortuna, a chamada vanguarda paulistana parece
ter entrado em acelerado processo de diluição e repetição. Fortuna chegou
atrasada. No seu inabalável bom comportamento, dá vontade de ouvir a voz
rasgada de Nana Caymmi, ou os gritos desafiadores de Vange Leonel. Tivesse
evitado a prudência de cair, confortável e sem riscos, no colo da vanguarda
consagrada, Fortuna talvez tivesse resultados mais irregulares - mas sem dúvida
menos monótono. Por enquanto, é só.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"><br /> O Estado de S. Paulo, Caderno 2, 12 de agosto de 1987 <span style="font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-62488707582367672642017-08-08T14:03:00.004-03:002017-08-08T14:03:54.262-03:00Contracapa de Amado Meu, livro de Pasolini<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZEBTABwmR10Kbw-FR3Owcr4_OkoD45EBIAZhaB1l4OdggsDHx0hSlDwLhtW-8OnAFMj4OI2TWNei5iLSmJ66GniFsxJsn2ctN9EF1Z4gUhTb_V5AspJGGPVjqc9zRNNyhZIgTgF98jYSl/s1600/CaioPaso.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="720" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZEBTABwmR10Kbw-FR3Owcr4_OkoD45EBIAZhaB1l4OdggsDHx0hSlDwLhtW-8OnAFMj4OI2TWNei5iLSmJ66GniFsxJsn2ctN9EF1Z4gUhTb_V5AspJGGPVjqc9zRNNyhZIgTgF98jYSl/s320/CaioPaso.JPG" width="240" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Lendo essas histórias – romances curtos, novelas,
confissões de um amor muito pessoal: que importa o nome? – ficaram muitas
coisas na minha cabeça. Antes de mais nada, a culpa que atormentava Pasolini
por esse amor que chamam de homossexual. E o seu impulso em direção ao prazer
de repente e sempre cortado pelo proibido de fora ou de dentro de nós. Fico
pensando que, se existe alguma forma de modificar o mundo e as organizações
sociais repressoras dentro dele, uma das mais eficientes talvez seja a dos
poetas. Quando abrem o coração para, devagar e sofregamente, mostrar aos outros
tudo o que se passa dentro dele. É nesse momento que conceitos como moral,
certo errado, bem ou mal deixam de ter sentido. Fica, no final de tudo, só a
vida que flui e reflui sem nome, imensa.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 16px;">O texto acima está na contracapa de <b>Amado Meu</b> (ed. Brasiliense, 1984). É resumo de um, já postado aqui, o belíssimo </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 16px;"><b>Meu Amado Pasolini,</b> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 16px;">publicado no Primeiro Toque, o informativo da editora, e datado assim: "Sampa, maio de 1984". Abaixo o link:</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://caiofcaio.blogspot.com.br/2011/05/meu-amado-pasolini.html">http://caiofcaio.blogspot.com.br/2011/05/meu-amado-pasolini.html</a></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018688016730156956.post-79276794774994170102017-07-26T19:03:00.003-03:002017-07-26T19:24:13.444-03:00Para Além dos Muros: Caio F. na Dr. Arnaldo <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFJdHPyJ-oCIEyNI70UiPdZgNmxQC1yrHefyIA39uhknTQjXdmqqogTVNYJdKIFYoKQtrH25wHa3k1PX71UlTa2f4_To_yLQ8IDfrqpePfn099q3Ea0NQ_ygNibWdMQIQ3qZ4ZpCobjosO/s1600/CaioPAi.PNG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="615" data-original-width="637" height="385" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFJdHPyJ-oCIEyNI70UiPdZgNmxQC1yrHefyIA39uhknTQjXdmqqogTVNYJdKIFYoKQtrH25wHa3k1PX71UlTa2f4_To_yLQ8IDfrqpePfn099q3Ea0NQ_ygNibWdMQIQ3qZ4ZpCobjosO/s400/CaioPAi.PNG" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i>“Agora vejo construções brancas e frias além das grades
deste lugar onde me encontro.” – Primeira Carta Para Além do Muro<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i>“...tentando ver os púrpuras do crepúsculo além dos ciprestes
do cemitério atrás dos muros – mas o ângulo não favorece, e contemplo então a
fúria dos viadutos...” - Segunda Carta Para Além dos Muros<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i>“Mas à noite, quando os neons acendiam, de certo ângulo a
Dr. Arnaldo parecia o Boulevard Voltaire, em Paris, onde vive um anjo surfista
que vela por mim.” – Última Carta Para Além dos Muros</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Estes fragmentos são das crônicas que Caio F. escreveu em
agosto de 1994, quando se descobriu portador do vírus HIV e foi internado no
Hospital Emílio Ribas. “Foram 27 dias habitados por sustos e anjos...”, ele
escreveu na Última Carta Para Além dos Muros.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">No muro do Hospital, na avenida Dr. Arnaldo, um painel, inaugurado em dezembro de 2015, traz grafites que mostram Caio ao lado de Cazuza, Betinho e Alex Vallauri, todos vítimas da Aids.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQLfmhcfJ-tz4ECN9zNk-wfIs9YU_OPi3EnmzcYVmhhhHKW03ceRX_ciWtlhMfw17AMD8nJCbz2Wkzfsu8WY_wsKMZbqR2oIC3WZ156GBqkw3fjfBkINRlbDrJSlXzmvhV02kJ0ZXqctNI/s1600/CaioPain2.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="968" data-original-width="1296" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQLfmhcfJ-tz4ECN9zNk-wfIs9YU_OPi3EnmzcYVmhhhHKW03ceRX_ciWtlhMfw17AMD8nJCbz2Wkzfsu8WY_wsKMZbqR2oIC3WZ156GBqkw3fjfBkINRlbDrJSlXzmvhV02kJ0ZXqctNI/s400/CaioPain2.JPG" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O Painel no muro do Hospital Emilio Ribas, av. Dr. Arnaldo, SP</td></tr>
</tbody></table>
<o:p></o:p></span></div>
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<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
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Caio Fhttp://www.blogger.com/profile/10342483596765312503noreply@blogger.com0