Escritas
quando Simone de Beauvoir se aproximava dos 30 anos, essas histórias foram
recusadas por dois editores sob a alegação de que não formavam “um conjunto
coerente que se pudesse chamar de romance”, além de faltar relevo às heroínas e
aos protagonistas masculinos”. Desde então, por autocrítica da autora, dormiram
no fundo da gaveta. Até o final do ano passado, quando foram publicadas na
França com rápido e estridente sucesso.
De
fato, Quando o Espiritual Domina (título ironicamente inspirado num ensaio do
pensador católico Jacques Maritain, Primazia do Espiritual) viola a divisão
acadêmica entre novela e romance, interligando sutilmente cinco histórias.
Antecipando-se sem nenhum ranço aos movimentos feministas, já na década de 30
Beauvoir fazia uma literatura genuinamente do ponto de vista feminino, sem
poupar a seus personagens os mesmos preconceitos e distorções que denunciaria
mais tarde em O Segundo Sexo. No centro do romance está o amor, o que Marcelle
sente por Dennis ou o que Chantal vê Monique sentir por Serge, ou ainda o que
Anne e Lisa sentem por Pascal. Em todos os casos, ele é falso – porque baseado na
humilhação, na inferioridade frente ao sexo masculino. Aos poucos, o título vai
crescendo de sentido, o “espiritual” domina quando o corpo e seus desejos reais
são negados ou iludidos. Ou quando as informações livrescas superam as vitais.
Quando
o Espiritual Domina, de Simone Beauvoir, Nova Fronteira, 241 páginas
Veja,
10 de setembro 1980
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