Aqui, um especial com Caio F. escrevendo sobre
escritores que ele adorava. Já teve Gabriel, Gárcía Márquez, Patricia
Highsmith, Virginia Woolf, e Julio
Cortázar nos posts anteriores. Abaixo, mais uma resenha do Caio sobre Cortázar
e o livro Alguém que Anda Por Aí. Boa leitura!
E se
de repente, pergunta Cortázar, no papelzinho saído de uma câmara Polaroid
começasse a delinear-se não a imagem fotografada, mas qualquer coisa como
Napoleão e seu cavalo? Tirando Napoleões das palavras como quem tira coelhos de
cartolas, páginas após páginas ele se empenha em fazer explodir a suposta razão
do leitor. É o leitor que, paradoxalmente, sai ganhando nesse jogo estranho.
"alucinante jogo de espelhos" |
Em
onze histórias densas, elegantes e personalíssimas, Cortázar retoma seus
inquietantes pontos de vista sobre a realidade, conseguindo manter a atenção
presa não só às tramas carregadas de mistério e emoção, mas também voltada para
as magias formais com que salpica seus enredos. Bruxo da palavra, subverte a
realidade circunstancial, transformando-a num alucinante jogo de espelhos, em
que nunca se sabe onde termina o reflexo começa a realidade. Ele pratica aquele
tipo raro de literatura revolucionária não por pretender diretamente mudanças
sociais mas por ser capaz de modificar e ampliar a visão de mundo de quem o lê.
Logo na abertura, em Troca de Luzes, um Pigmalião molda pacientemente sua
Galatéia, até descobrir que, à sua maneira, ela também é um Pigmalião. No
erótico e angustiante A Barca ou Nova Visita a Veneza, as falhas do texto são
criticadas por um personagem.
Para
quem amou o Cortázar de Final de Jogo ou Bestiário, estranhando as
invencionices um tanto frias do Livro de Manuel ou Modelo Para Amar, um
mergulho nas águas fundas deste livro trará o encantamento do reencontro com
uma paisagem conhecida. Para quem ainda não leu, dificilmente haveria
apresentação mais estimulante.
Veja,
15 de Julho 1981
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