Entre as muitas lendas, verdadeiras ou não,
que correm sobre Zelda Fitzgerald, uma talvez tenha um significado especial.
Conta-se que, certa vez, trancada em um quarto de hotel, Zelda colocou a cidade
em polvorosa ao quebrar o alarme contra incêndios. Quando os bombeiros
arrombaram a porta, perguntando onde estava o fogo, Zelda disse batendo com o
punho fechado sobre o peito: “Aqui!”. Anos mais tarde, por uma dessas trágicas
coincidências, ela morria queimada no incêndio do hospício onde estava
internada enquanto Scott sobrevivia escrevendo roteiros para filmes em
Hollywood.
Mas esta história talvez sintetize o espírito
dos dois, e o espírito desses belos Pedaços do Paraíso, que reúne seus contos,
Havia no peito de Scott e de Zelda uma incendiada paixão pela vida, que o
grande craque da Bolsa de Nova York apagou, em 1929, precipitando a ela na
loucura e a ele na luta amarga pela sobrevivência.
Reunidos pela filha dos dois, Scottie, em
1973, estes contos trazem à tona farrapos coloridos daquele período. Seriam
textos menores, escritos com o objetivo específico de ganhar dinheiro. Inútil
procurar neles a beleza trágica de Belos e Malditos ou Suave é a Noite, mesmo
assim persiste aqui o mesmo encanto indefinivel, a mesma finura, a mesma
compreensão dos defeitos humanos.
A surpresa são os textos de Zelda. Consciente
de suas deficiências, ela justifica-se ao final do melancólico A Garota de Um
Milionário: “(...) talvez eu seja cínica demais e, quem sabe, não muito
competente para julgar esses casos de amor”. Não era. Mesmo mal acabados, seus
contos são cheios de uma profunda e torturada sensibilidade, talvez a mesma que
a levou à loucura. Produzem no leitor um riso ao mesmo tempo divertido e
amargo.
Para quem os amou e ainda os ama, este livro
os traz de volta. Belos, bêbados, delirantemente românticos e desesperados.
Cheios de vida, enfim. Ou da vida possível quando os tempos e as emoções eram
outros.
Pedaços do Paraíso, de Zelda e Scott
Fitzgerald
Veja, 20 agosto de 1980
Olá, Caio! Fazendo a leitura de Suave é a Noite, andei buscando mais informações sobre o autor e sou-lhe grata pela resenha q revela a plenitude do sentimento de Scott e Zelda Fiztgerald.
ResponderExcluirAtt, Cecília