Um horror: Pedro, o Grande,
mandou decapitar o amante de sua mulher, colocou a cabeça numa jarra com álcool
e obrigou-a a conservar o macabro troféu no quarto de dormir. Uma maravilha: o
corpo humano é formado por cerca de 60 bilhões de células, cada uma delas com
10.000 vezes mais moléculas que o número de estrelas da via-láctea.
Com 3.000 informações desse
tipo, o escritor de ficção científica Isaac Asimov recheia as alentadas e
deliciosas páginas deste Livro dos Fatos.
Abandonando as histórias imaginárias para seguir uma observação de Ivan Pavlov
(“Conheça, compare, colete os fatos”), ele e mais dezesseis colaboradores
selecionaram dezenas de milhares de fatos curiosos, classificando-os em mais de
setenta assuntos diferentes, de História, Matemática, Literatura, Astronomia e
Física, Política, Teatro. Assim, em Desumanidades
do Homem, pode-se recolher um dado amargo: nos dois últimos séculos tem
sido exterminada a média de uma espécie animal por ano.
O enterro de Mozart |
Informativo, mas também
divertido, é um livro sob medida para apreciadores daquele tipo de seção Você Sabia Que?, de almanaques ou
jornais provincianos. Ou para curiosos em geral (e quem não é?), capazes de
interessar-se tanto por inutilidades como o número de arrebites da torre Eiffel
(2,5 milhões), como por melancolias sobre o enterro de Mozart: apenas uma
pessoa acompanhou o caixão, jogado na vala comum. Alguém se importa com o
costume do povo tinguiano, das Filipinas, de beijar encostando os lábios na
face da outra pessoa, inspirando rapidamente?
A carta de Marx |
Mais saborosas que os dados
meramente estatísticos, são certas revelações sobre excentricidades no
comportamento de monstros sagrados da cultura ocidental. Uma delas: o austero
dr. Sigmund Freud viajava sempre acompanhado, pois era inteiramente incapaz de
conseguir ler o horário dos trens. Outras, mais chocantes: D. H. Lawrence,
autor do escandaloso O Amante de Lady
Chaterley, tinha a irrefreável mania de subir em amoreiras, completamente
nu, enquanto Mata Hari encomendou um vestido especial para o dia de seu
fuzilamento. Entre as demências, como o lema de Henry Ford, em 1921 – “a vaca
deve ser eliminada” –, disposto a implantar nos Estados Unidos exclusivamente
leite sintético, e a estranheza de uma carta de Marx (Karl, não Groucho) a
Engels (“Não confio em nenhum russo. Sempre que um russo consegue insinuar-se,
abrem-se as portas do inferno”). Asimov vai semeando informações talvez
dispensáveis mas nem por isso menos gostosas. O resultado final é uma
exuberante colagem de surpresas.
Rimbaud: caixeiro viajante |
Às vezes, ele perde a
originalidade ao incluir fatos excessivamente conhecidos – a surdez de
Beethoven, ou a ruptura de Rimbaud com a vida literária, aos 19 anos, para ser
caixeiro viajante. Mas logo recupera-se, ao contar que a mulher que mais vezes
saiu na capa da revista Time (dez vezes) foi... a Virgem Maria. A inesperada
decepção das relativamente poucas informações sobre o universo (apenas quatro
páginas) é compensada, por exemplo, pela abundância de tópicos sobre Medicina.
O preço de tudo isso é um tanto salgado, mas os curiosos certamente darão um
jeito. Depois, poderão deliciar-se lendo esses fatos numa repousante cadeira de
balanço – que, a propósito, foi inventada por Benjamin Franklin...
Veja, 22 de julho, 1981 (Caio F. tinha 32
anos)
Maravilhoso
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