De Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes |
É belíssimo o documentário
Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes, claro que sobre Caio F., que passa hoje, 23 setembro, às 20h30, no canal Arte 1 (reprises na quinta, às 17:25 e Sábado, 18:05). Imagens dos lugares em que ele viveu e seus escritos
nas vozes daqueles que com ele conviveram. Um dos momentos mais tocantes vem com
imagens da avenida Paulista e logo entra Maria Adelaide Amaral lendo uma carta que
Caio lhe enviou depois de assistir a peça De Braços Abertos. Está no esgotado
livro de Cartas, é uma carta longa e terrivelmente bela. Segue abaixo o trecho
final, lido por Maria Adelaide em Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes, de Bruno Polidoro e Cacá Nazario.
A Maria Adelaide Amaral
Sampa, 29 de outubro de 1984
(...........)
Maria Adelaide Amaral: Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes |
Há quase dois dois meses,
menos, vi a morte – e isso mudou muita coisa em mim. Está mudando. Teria que te
contar devagar, com calma, como foi a história toda de ter que vestir o cadáver
da mãe morta do Reinaldinho Moraes, quando eu nunca tinha visto aquilo de
perto. Eu descobri que a gente morre. Eu sei agora que a gente morre. E achei
feio, achei tristésimo, achei o corpo humano tão frágil, tão perecível. Fiquei
doente, estou fraco, frágil, choro pelos cantos. Voltei à terapia, estou
remexendo coisas fundas. Dolorosas, meio perdido, com uns problemas difíceis,
materiais, de grana, de saúde, de solidão. E escolhendo não morrer, escolhendo
continuar, de uma forma ainda meio cega, tortuosa, não-racional.
Ontem também fazia
exatamente um ano que Ana Cristina se jogou pela janela. Eu tinha pensado nela
o dia inteiro.
De Braços Abertos, a peça* |
Porque chega uma hora em que
você tem que escolher a vida. Eu talvez não saiba bem ainda o que isso
significa, mas é claro para mim que a hora dessa escolha é agora, está
acontecendo. Então ver De Braços Abertos foi outra peça que encaixou nesse
quebra-cabeças cujo desenho real mal começo a intuir. Porque ela te puxa para o
lado da vida, e que não é um lado facilmente ensolarado, luminoso, leve &
solto. Vou falar o óbvio de Eros e Thanatos, mas o impulso para amar, para
encontrar e conhecer e mergulhar no outro, é o que nos traz para perto da vida.
E é por isso que quando se está de braços abertos, se está dando as costas para
a morte. Ou deixando, calmamente, tão calmamente quanto possível, que ela venha
a seu tempo – porque fatalmente virá.
O que acontece comigo é que
eu tinha andado de braços fechados. Sem perceber. Analisando meus sonhos,
ultimamente, isso tem ficado tão claro. E eu não quero mais. Ainda não sei como
chegar lá, mas você me ajudou muito ontem à noite. Eu quase não conseguia
falar, depois. E nem era preciso.
Acho que você está dando
coisas lindas para as pessoas. Lindas com todos os componentes de dificuldades,
e dores, e procuras, e tentativas e perdições. Lindas-fortes, não
lindas-fáceis. Sinto uma grande admiração por você e um grande orgulho de poder
me considerar seu amigo. Obrigado. Um beijo muito grande e com muito carinho.
Seu
Caio F.
*Na foto, Juca de Oliveira e Irene Ravache na peça De Braços Abertos, de Maria Adelaide Amaral, o "motivo" dessa carta.
Aqui, o link do Canal Arte 1 para Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes
http://arte1.band.uol.com.br/fragmentos-da-vida-de-caio-fernando-abreu/
Assisti hoje, é lindo demais, deslumbrante! As imagens, vozes não saem da minha cabeça. O blog é lindo, parabéns! Dalva
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