terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Duas ou três coisas sobre Fernandinha



Com Fim, Fernanda Torres estreou como escritora no finalzinho do ano passado. É bem interesasnte ler esse encontro com Caio F. em abril de 1986, quando Fernanda tinha 20 anos, estrelava a novela das oito (Selva de Pedra) e o filme Eu Sei Que Vou Te Amar chegava aos cinemas e ainda não havia passado em Cannes, onde ela ganhou o prêmio de melhor atriz. Abaixo, o perfil de Fernanda por Caio F., quando ele tinha 37 anos.

                                     
                                   Duas ou três coisas sobre Fernandinha

                                             No momento, Fernanda Torres
                                              tem um único projeto:
                                              terminar Selva de Pedra

Fernanda Torres é uma meninona tranquila nos seus 20 anos. Uma estrela? Nada disso, apesar de tantos trabalhos e prêmios. “É que juntou tudo, cara. Fico assustada, mas também fico fria”. Eu faço perguntas que ela responde com outras perguntas: “Você não acha que a gente tem que aprender a transformar as coisas? Claro que pintam trabalhos desagradáveis, mas sempre pode ter uma pérola no meio, que você não está vendo. Eu tenho me perguntado muito o que é bom? O que é careta? O que é vanguarda? É muito raro encontrar o belo e o bom em estado puro – eles vêm misturados com outras coisas. A gente vai aprendendo a separar. E às vezes mistura tudo”.

De tudo que fez ultimamente, ela está mais entusiasmada com Com Licença Eu Vou à Luta, em que faz o papel de uma garota bêbada e mãe solteira aos 15 anos.

Fernanda tirou o pé da adolescência faz pouco. E transa análise lacaniana. Acha difícil responder perguntas, ser questionada sobre os rumos do País, o pacote econômico, a libertação da mulher, o cometa Halley, e por aí vai. Mas adora quando acontecem coisas como, na semana retrasada, quando foi comprar uma cabra para seu sítio. O vendedor de cabras ficou maravilhado: “Dona Simone, tá vendo esta cabrinha? Ah, dona Simone, a senhora tem sofrido tanto com aquele marido... vou lhe fazer um precinho camarada nesta cabrinha”.

Com Tony Ramos em Selva de Pedra
Sobre projetos, o único que ela tem é terminar Selva de Pedra. Suspira. E faz uma fantasia rápida sobre a transformação de Simone em Rosana Reis: “Eu queria mesmo é que ela voltasse bem punkona mesmo. Ela tinha que barbarizar, porque a Simone é uma corna mansa... “. É ruim fazer telenovela? “Nada, menino. É libertador você descobrir que a telenovela não tem a menor lógica. Igualzinho a vida. Até ajuda a entender um pouco mais as coisas. Ou desentender. O que dá no mesmo, não é verdade.


             OESP, na capa do Caderno 2, quinta-feira, 17 de abril de 1986