Publicado em 1986 na New Yorker, esta novela – ou conto longo – de Susan Sontag, foi provavelmente a primeira obra de ficção sobre AIDS. Nos anos seguintes o tema chegaria a virar moda, principalmente na França, onde o escritor Hervé Guibert documentou em dois livros e um vídeo sua longa agonia e Cyrill Collard fez um romance e um filme (Les Nuites Fauves) tendo a si mesmo como protagonista. Mas Sontag, nesse terreno, foi precursora.
Quase dez anos depois da sua publicação, Assim Vivemos Agora não envelheceu absolutamente nem parece datado. Mesmo com muitas descobertas científicas sobre o HIV e as novas formas de tratamento, o texto continua vivo como se escrito hoje. Talvez porque, bem mais que o científico, trata-se de um documento humano – e, mais que sobre AIDS, seja sobre a amizade e a solidariedade nos grandes centros urbanos.
Com a doença de um jovem antiquário bissexual, os amigos mais próximos se mobilizam em cuidados, revezando-se no hospital para não deixá-lo só. Na intrincada teia de relacionamentos, sentimentos contraditórios vão emergindo, desde o terror de estar também contaminado até o espanto perante a morte, passando por mesquinhos conflitos pessoais e tolas cenas de ciúme. Escrito num contraponto das vozes – sempre em tom de diz-que-diz-que – de inúmeros personagens, na sua carga quase insuportável de tensão e emoção. Assim Vivemos Agora parece ter sido escrito num só fôlego. E da mesma forma pode ser lido, mergulhando sem susto nos infernos emocionais dos personagens de Sontag e apreciando os magníficos recursos técnicos da autora.
Uma leitura vertiginosa, capaz de fazer o leitor sentir-se em pleno centro do turbilhão do mundo de hoje.
Orelha de Assim Vivemos Agora, livro de Susan Sontag, traduzido por Caio F. (Companhia das Letras, 1986)
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